Mais da metade das famílias sul-mato-grossenses se recusa a doar órgãos
Durante o ano passado, 133 pessoas foram notificadas como potenciais doadoras no Estado, mas somente 13 tiveram algum órgão ou tecido doado

Dados do Ministério da Saúde revelam que mais da metade das famílias sul-mato-grossenses se recusa a doar órgãos de parentes falecidos com diagnóstico de morte cerebral. Durante o ano passado, 133 pessoas foram notificadas como potenciais doadoras no Estado, mas somente 13 tiveram algum órgão ou tecido doado, enquanto 86 pessoas estavam aguardando por um transplante.
Além do transplante de tecidos (córneas), o rim e o coração são os órgãos mais necessários para os pacientes na fila de espera por doação. O médico Leonardo Borges de Barros e Silva e o enfermeiro Edvaldo Leal de Moraes, coordenadores da Organização de Procura de Órgãos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), explicam que os motivos para a alta taxa de recusa familiar (51%) vão desde crenças religiosas até o desconhecimento e não aceitação da morte encefálica, o que faz muitos familiares acreditarem que a condição do ente querido com o corpo quente e o coração batendo seja um indicativo de que ele está vivo.
“O diagnóstico de morte encefálica – conhecida também como morte cerebral – é irreversível, ou seja, o paciente perde todas as funções que mantêm a sua vida, como a consciência e capacidade de respirar. O coração permanece batendo e os demais órgãos funcionando. Com exceção das córneas, pele, ossos, vasos e valvas do coração, essa é uma das situações em que os órgãos podem ser utilizados para transplante”, observam os especialistas.
Autorização - O consentimento informado é a forma oficial de manifestação à doação. A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica dependem da autorização do cônjuge ou parente maior de idade, obedecida a linha sucessória, firmado em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.
“Evidentemente, a manifestação em vida da pessoa a favor da doação de seus órgãos e tecidos para transplante pode favorecer o consentimento após a morte, mas, de acordo com a legislação, é a vontade da família que deve prevalecer”, esclarecem.
Os números do Ministério da Saúde mostram também que, em 2015, 149 transplantes foram realizados no estado do Mato Grosso do Sul. Desses, dois casos foram de rins transplantados e 147 de córneas.
“Infelizmente, o estado apresenta baixa taxa de doadores efetivos, bem como de transplantes, tendo realizado no ano de 2015 apenas dois transplantes com doadores vivos”, conta Claire Carmem Miozzo, coordenadora da CNCDO (Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos de Mato Grosso do Sul.
Conscientização - Com objetivo de conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos e, principalmente, colocar esse tema em pauta nas discussões familiares para reduzir a taxa de recusa, o Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Faculdade de Medicina da USP, realiza o Projeto “Gesto de Herói – o poder de doar vida”. A exposição itinerante, que já passou por várias capitais do país durante esse ano, encerrará seu percurso neste domingo (19), em Campo Grande. O estande do projeto está disponível gratuitamente no Shopping Bosque dos Ipês, para que a população possa esclarecer as principais dúvidas relacionadas à doação e transplante de órgãos.
Além da exibição de depoimentos reais de familiares de doadores falecidos e transplantados, os visitantes contarão com painéis explicativos sobre o processo e, ainda, a presença de especialistas nessa temática para responder perguntas, como os principais mitos e verdades a respeito do assunto.