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Capital

“Minha neta vive com medo”, relata avó de criança de 8 anos torturada pelo pai

Em novembro de 2022, laudo psicológico indicava que a criança estava em situação de risco

Mylena Fraiha e Thays Schneider | 02/04/2023 08:52
“Minha neta vive com medo”, relata avó de criança de 8 anos torturada pelo pai
A criança de 8 anos sofreu agressões do pai nos últimos dois anos (Foto: Paulo Francis)

A criança de 8 anos que sofreu agressões do pai nos últimos dois anos, em Campo Grande, agora está sob a guarda da família materna. O caso veio à tona nesta quarta-feira (29), após a menina ser resgatada com várias lesões em uma casa no Bairro Guanandi, em Campo Grande. O pai teria chutado o rosto da filha e colocado pimenta no ouvido dela.

A mãe, de 31 anos, e a avó materna, de 61 anos, deram detalhes ao Campo Grande News sobre o que a menina passou durante os dois anos em que esteve sob a guarda do pai.

Segundo elas, o pai batia na criança e a obrigava a comprar bebida alcoólica. Além disso, a menina também tinha que suportar as agressões da avó paterna. Durante esses dois anos, a família materna tentou recuperar a guarda, mas não conseguiu. O pai proibia visita da mãe e os avós maternos.

De acordo com a avó materna, a criança nasceu com sífilis congênita, que gerou ferida em sua boca. Ela estava na fila de espera do SUS (Sistema Único de Saúde). Após o pai conseguir a guarda, o tratamento foi descontinuado e a vaga da cirurgia perdida.

“Minha neta vive com medo”, relata avó de criança de 8 anos torturada pelo pai
No rosto da menina, as marcas das agressões sofridas. (Foto/Arquivo)

Nesse período, a menina ficou fora da escola e agora, com 8 anos, ainda não sabe ler nem escrever.

Suspeita - Com o contato restrito pelo genitor, a família materna alega que não sabia das agressões. A suspeita surgiu quando a namorada dele tentou dar indícios de que algo errado estava acontecendo com a criança. Depois disso, a família materna começou a investigar.

Durante esses dois anos sem a guarda da menina, a mãe tentou recorrer à Defensoria Pública.

Determinação judicial - Em 2022, a guarda passou a ser compartilhada. Entretanto, depois de uma das visitas, ele não quis entregar a menina de volta à mãe. A partir de então, a família materna foi impedida de ver a menina e lutava para recuperá-la.

O próprio suspeito foi quem entrou com o pedido para regulamentar a guarda. A Justiça, então, ordenou que uma assistente social visitasse as famílias para ver a situação de moradia e convívio.

“Minha neta vive com medo”, relata avó de criança de 8 anos torturada pelo pai
Pimenta foi introduzida no ouvido da criança. (Foto/Arquivo)

As visitações começaram em novembro de 2022. Em relatório citado no boletim de ocorrência, consta que a profissional notou sinais de embriaguez no homem.

Em alguns trechos do laudo psicológico, feito em 2022, os assistentes sociais apontam que a criança está "em situação de risco se permanecer sob os cuidados do pai". E de que a família materna tinha "motivações e condições afetivas" de atender a criança em suas necessidades.

Foi então determinado pela Justiça que a criança fosse retirada da casa do pai. No entanto, somente no dia 22 de março deste ano, um oficial compareceu à residência dele, mas não conseguiu cumprir o mandado. O oficial retornou na quarta-feira (29), quando encontrou o autor "visivelmente alterado". De dentro do imóvel teria saído a namorada dele, com o olho machucado e pedindo "pelo amor de Deus, retire a criança daqui".

Já com a família materna, a menina foi ouvida e contou que passou mal naquele dia e teria vomitado duas vezes. O pai ficou "muito bravo", nas palavras da pequena, e quando a namorada dele sugeriu que a levassem ao médico, levou um soco no rosto. Em seguida, a filha foi agredida também por um soco no olho.

“Minha neta vive com medo”, relata avó de criança de 8 anos torturada pelo pai
Avó mostra que neta ficou com marcas das agressões sofridas pelo pai (Foto: Paulo Francis)

Após a recuperação da guarda, na quarta-feira (29), a avó materna notou que a neta tinha marcas de agressões no corpo. "Quando peguei ela minha neta estava irreconhecível, boca roxa, várias marcas de faca pelo corpo. A minha neta quando morava aqui sorria, hoje vive com medo”, relata.

A menina também tinha marcas de queimaduras no corpo. “Ele colocava no fogo e queimava ela. Ela tem a marca certinha de marca de vassoura nas costas”, explica a avó.

Insegurança - Agora, com a guarda, a família materna pretende manter a segurança e o bem-estar da criança. A avó materna relatou que sempre se deu bem com a menina e que as duas eram muito apegadas uma à outra. “A gente pintava as unhas e fazíamos lacinho no cabelo”.

“Minha neta vive com medo”, relata avó de criança de 8 anos torturada pelo pai
Avó materna relata que era impedida deconviver com a neta durante os últimos dois anos (Foto: Paulo Francis)

Nesse período, o avô materno também foi afetado, ao ponto de desenvolver diabetes emocional depois que a menina saiu da casa. "Ele ia de bicicleta do Los Angeles até o Guanandi para tentar ver a menina, mas nunca conseguia", relata a avó materna.

Com a menina em casa, a família quer voltar com o tratamento da doença e pretende matricular a criança em uma escola, mas somente após a prisão do genitor. “Estamos com medo de matriculá-la em alguma escola, porque fomos ameaçados de morte por ele [o genitor]. Ele ainda não está preso”.

Devido a pouca estrutura de segurança da casa, a família materna pede ajuda para garantir a proteção e segurança da menor.  

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