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Capital

Moradora chora e reclama da falta de estrutura, mas prefeito pede paciência

Natalia Yahn | 11/03/2016 12:37
Amanda chorou e ouviu do prefeito Alcides Bernal (PP), que "toda mudança traz dificuldade". (Foto: Marcos Ermínio)
Amanda chorou e ouviu do prefeito Alcides Bernal (PP), que "toda mudança traz dificuldade". (Foto: Marcos Ermínio)

Indignação, medo e revolta são os sentimentos dos moradores que foram removidos da favela Cidade de Deus, próxima ao lixão de Campo Grande, para um terreno no Bairro Vespasiano Martins. E nesta sexta-feira (11), durante a visita do prefeito Alcides Bernal (PP), ao local da transferência, em meio as lágrimas alguns tentavam questionar a mudança.

Mas com a ajuda de moradores que se mostram satisfeitos com a mudança e também de seguranças do prefeito, que abordaram e pediram paciência e silêncio durante a fala dele, apenas o medo prevaleceu. “Espera, deixa ele (prefeito) falar. Depois você fala”, disse um segurança para uma moradora que a reportagem do Campo Grande News conseguiu identificar apenas como Mariana. Ela foi calada, se afastou e desapareceu no meio da multidão.

Já as lágrimas não deixaram que a moradora Amanda Neli de Oliveira, 22 anos, se escondesse. Ela chorava enquanto ouvia o consolo do prefeito, de que “tudo seria resolvido e mudanças trazem dificuldades mesmo”. Com três filhos de 7, 2 e 1 ano, e o marido preso, ela tenta reerguer o barraco para proteger as crianças. “Só estou recebendo ajuda da minha mãe. Não tenho a quem recorrer”.

O choro dela começou após ter questionado o fato de outra moradora, Edna Marcelino, ter recebido uma cartilha com as regras para a construção das casas no local, diretamente das mãos de Bernal. A reclamação geral dos demais moradores era de que Edna age a favor do prefeito, e logo depois de receber o documento tentou calar Amanda com as próprias mãos. A idosa colocou a mão na boca da jovem, para impedir que ela fizesse mais reclamações. Após a confusão, Amanda foi para o fundo da tenda onde acontecia a solenidade, e foi consolada por outros moradores.

Mas a indignação dela com o local destinado para a remoção das famílias retrata a insegurança de outros moradores. Sandra Patrícia Sales Gomes passou por uma cesariana há 22 dias, ontem (10) ela e o bebê tiveram febre. “Estou com os pontos infeccionados, no primeiro dia que mudei a chuva molhou tudo, até as roupas do bebê. Precisei dormir na casa da vizinha. E o bebê também está com febre”, afirmou.

Além do bebê, ela também mãe de outras três crianças, de 12, 11 e 6 anos. Os dois mais velhos precisaram ficar na casa da avó, no Bairro Aero Rancho. "Na Cidade de Deus a gente morava junto, mas eles tiveram que ficar, porque aqui não tem condições", disse Sandra.

Edna tentou calar Amanda. (Foto: Marcos Ermínio)
Edna tentou calar Amanda. (Foto: Marcos Ermínio)
Mariana também reclamou e logo foi abordada por segurança do prefeito. (Foto: Marcos Ermínio)
Mariana também reclamou e logo foi abordada por segurança do prefeito. (Foto: Marcos Ermínio)

Autorização - Ontem (10), apenas 26 minutos depois de o TJ (Tribunal de Justiça) suspender a remoção de famílias da favela Cidade de Deus, em Campo Grande, a Prefeitura desistiu do recurso que ela mesma apresentou, em 2014, obrigando o Judiciário a rever a decisão, mantendo a autorização do município em proceder a retirada dos moradores.

Estas informações constam em agravo de instrumento que tramitava na 2ª Câmara Cível do TJ (Tribunal de Justiça), pois o desembargador Paulo Alberto de Oliveira acatou o pedido da Prefeitura e extinguiu o recurso, prevalecendo decisão de primeira instância.

Ou seja, a Justiça de Campo Grande determinou no começo deste mês a reintegração de posse da área onde fica a Cidade de Deus, nos arredores do lixão da cidade, mas havia uma liminar de setembro de 2014, concedida pelo TJ a pedido da própria Prefeitura, ainda em vigor.

Ainda vale a decisão da 2ª Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos, do começo de março, determinando a reintegração de posse da área onde fica a favela. 

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