Moradores de favela resistem a desocupação e fecham trecho do anel viário
Comunidade do Linhão foi notificada ontem (27) e tem até o dia 7 de julho para sair do terreno
Com reintegração de posse marcada para o dia 7 de julho, moradores da comunidade conhecida como Linhão, do bairro Noroeste, bloqueiam desde às 14h30 desta terça-feira (28) a BR-163, no anel viário de Campo Grande. Existente há mais de uma década sob a linha de alta tensão da Energisa, a favela possui 93 famílias e foi notificada ontem para que saiam da área.
Caso não ocorra a saída, o Batalhão de Choque da Polícia Militar será acionado para removê-los. A interdição já provocou cerca de 6 quilômetros de congestionamento, que já atingiram o fluxo da BR-262, no sentido sul, conforme a PRF (Polícia Rodoviária Federal).
Após duas horas de interdição total da rodovia, os manifestantes aceitaram liberar parcialmente a via por 15 minutos, conforme acordado com a PRF, mas não “respeitaram” todo o tempo. Com o trânsito fluindo, alguns manifestantes voltaram a entrar na frente dos veículos e fecharam totalmente a via novamente. Com isso, os agentes da PRF disseram que iriam acionar a chefia da corporação para acompanhar a manifestação.
Segundo os moradores, ninguém mora na favela porque quer e não tem para onde ir, caso precisem mesmo sair da área. “São 93 famílias que serão despejadas! Nos disseram que não tem onde colocar as famílias, que não tem área e que era um problema que tem que ser resolvido por nós. Só vamos sair daqui da rodovia quando o Bernal vier e a diretoria da Energisa. Não adianta mandar assessor”, disse a cuidadora de idosos e líder do movimento Carmen da Silva, 53 anos.
“Em época da eleição, ele (Bernal) olhava para a gente. Foi a periferia que elegeu ele e agora nem olha pra gente. Vamos continuar esse bloqueio até termos uma posição para onde seremos realocados e se não tivermos uma resposta, todos os dias vamos fechar a rodovia”, completou Carmen. Segundo a PRF, cerca de 60 manifestantes realizam o bloqueio desde às 14h30.
Para o morador Sidnei Pereira de Souza, 30 anos, desempregado há um mês, ninguém está ali porque quer, mas sim porque não tem para onde ir. “Tenho quatro filhos e estamos aqui buscando pelos nossos direitos, pelas nossas famílias. Não queremos guerra. Vamos fazer o que? Ninguém mora aqui porque gosta, mas sim porque precisamos. Não pensam nas famílias”, afirmou.
Com muitas crianças pequenas circulando pela rodovia interditada, o Conselho Tutelar foi chamado e tenta um acordo com as mães e responsáveis dos menores. Segundo as conselheiras Geovana Barbosa e Mirian Falcão, o ideal seria que as crianças ficassem em casa e os manifestantes se revezassem para que elas não ficassem expostas na rodovia.
Até o momento o trânsito continua totalmente bloqueado pelos manifestantes e não há previsão de liberação de algum dos lados da rodovia.