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Capital

Moradores têm barracos derrubados e são removidos debaixo de viaduto

A desapropriação seria necessária para as obras de revitalização do córrego. Sem ter para onde ir, os moradores reclamam da ação

Geisy Garnes e Aletheya Alves | 17/08/2020 16:44
As maquinas limparam o terreno e derrubaram os barracos dos moradores (Foto: Silas Lima)
As maquinas limparam o terreno e derrubaram os barracos dos moradores (Foto: Silas Lima)

Família que moram há anos embaixo do pontilhão do cruzamento das avenidas Manoel da Costa Lima e Ernesto Geisel, às margens do Rio Anhaduí, foram retiradas do local e viram os barracos serem destruídos por equipe da Prefeitura de Campo Grande, na manhã desta segunda-feira (17). A desapropriação seria necessária para as obras de revitalização do córrego. Sem ter para onde ir, os moradores reclamam da ação do município.

A desapropriação, contam, aconteceu nas primeiras horas do dia. “A gente acordou hoje com um senhor que vem dar pão e leite. Foi sorte, porque ele acordou a gente e aí já tava a patrola. Deu tempo de tirar só o básico, um colchão e nem roupa deu tempo”, recorda Vânia Regina Gonzales, de 42 anos.

Vânia acordou com a casa sendo destruída e afirma: quer permanecer no local (Foto: Silas Lima)
Vânia acordou com a casa sendo destruída e afirma: quer permanecer no local (Foto: Silas Lima)

Há dois anos, Leandro Oliveira, de 39 anos, fez da região movimentada de casa e hoje viu tudo que tinha, ser levado em pouco tempo. “Avisaram que estão fazendo revitalização do córrego. Mas nós somos tipo um câncer que precisa ser retirado e hoje eles fizeram a cirurgia. Chegaram com um caminhão, patrola e tiraram tudo”.

De pé na área em que mora há um ano, Brian Rian Oliveira, de 25 anos, diz não saber o que fazer. “A gente não sabe o que fazer agora. O que faz na hora do toque de recolher? A gente vai se esconder na casa de alguém? Porque jogaram fora a nossa”, lamenta o morador enquanto olha os restos da casa ser levados pelas equipes da obra.

Ao Campo Grande News, os moradores explicaram que receberam proposta da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) para ficarem em um dos abrigos mantidos em Campo Grande, mas se negaram. Primeiro, alegam, por medo da contaminação do coronavírus em um ambiente fechado como dos alojamentos. E segundo por quererem a “própria casa”.

“A gente tá assustado com esse negócio do Corona. E a gente também é viciado, se levassem a gente ia ter que ficar preso. A gente quer ficar aqui, dá pra trabalhar, a gente não incomoda ninguém”, detalhou Leandro Oliveira. “A gente quer nossa casa, não quer ficar amontoado com um monte de outra gente. Melhor ficar aqui”, completou Vânia.

Para a reportagem, a SAS reforçou o trabalho social feito com as pessoas que escolheram morar às margens do rio. Alegou que equipes foram até a região para sensibilizar a necessidade de saída do local e explicar o motivo da limpeza da área. Para isso, colocaram todos os serviços de política de assistência social a disposição, mas todos negaram o acolhimento.

“Para aqueles usuários que aceitarem nossa intervenção, são ofertados o trabalho do Centro POP, para alimentação, higienização, com emissão de documentação, e acompanhamento psico jurídico social, bem como, encaminhamento às Comunidades Terapêuticas, e para os Acolhimentos Institucionais para pessoas adultas e famílias”.

Ainda conforma a secretaria, os serviços oferecidos para a população em situação de vulnerabilidade são “continuadas e permanentes” para que eles deixem as ruas. Em nota, detalhou que as abordagens são realizadas nos locais, todos os dias, por equipes do serviço especializado em abordagem social.

“Salientamos que, a distribuição de alimentos, doações de roupas e dinheiro não colaboram com os serviços públicos oferecidos às pessoas em situação de rua, ou seja, estando na contramão da Política Pública fazendo com que os mesmos permaneçam na mesma condição. Portanto, estas atitudes mantêm as pessoas mais tempo na rua, sustenta vícios (bebidas e drogas), estimula a mendicância, não resgata a cidadania e não contribui para o processo de saída da rua”, divulgou a secretaria em nota.

“Deixa só a poeira abaixar, todo mundo vai voltar. Tem umas quatro famílias de cada lado do córrego. A gente já falou que podem colocar parede em tudo isso aqui, a gente fura e volta de novo”, concluiu Leandro.

O local foi limpo nestá manhã (Foto: Silas Lima)
O local foi limpo nestá manhã (Foto: Silas Lima)
Depois de verem as casas derrubadas, moradores reclamam da ação (Foto: Silas Lima)
Depois de verem as casas derrubadas, moradores reclamam da ação (Foto: Silas Lima)


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