Motociclistas entre 20 e 40 anos são quase metade das vítimas de trânsito
Em pouco mais de quatro anos, o funcionário público Kleber Pinheiro, 35 anos, se envolveu em três acidentes de moto em Campo Grande, que resultaram em fraturas no fêmur, no joelho esquerdo e na tíbia. Em todos os casos, o motociclista foi atendido pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na Santa Casa e passou por vários procedimentos, entre eles cirurgias e fisioterapia.
Conforme estudo sobre perfil dos acidentados, elaborado pelo setor de traumatologia da Santa Casa, Kleber compõe o principal perfil das vítimas de acidentes de trânsito, que envolvem principalmente motociclistas, homens e jovens entre 20 e 40 anos e que são atendidos pelo SUS. O paciente ainda se recorda do primeiro acidente que ocorreu em fevereiro de 2011 e que lhe rendeu um fratura no fêmur.
“Desviei para não bater em um carro, acabei perdendo o controle da direção e sofrendo uma queda”, conta. Resultado: Foram sete dias de internação, cirurgia, fisioterapia e cinco meses de licença no trabalho.
Em dezembro do mesmo ano, quando já havia retornado ao emprego, Kleber sofreu o segundo acidente. Dessa vez, na Avenida Ernesto Geisel com a Graciliano Ramos. “Fui atingido por um carro que não respeitou a sinalização”, justifica.
Ele fraturou o joelho esquerdo e também ficou mais cinco meses encostado pelo INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). O primeiro atendimento foi pelo SUS, depois foi transferido para uma clínica particular paga pelo seguro do carro envolvido na colisão.
Depois das duas experiências, Kleber se envolveu novamente em acidente. Ele seguia de moto pela Rua Pedro Celestino, quando foi atingido por outra motocicleta no dia 11 de janeiro deste ano. Kleber e o outro motociclista sofreram fraturas e foram levados à Santa Casa.
Há três dias internado, o funcionário público aguarda para fazer cirurgia na tíbia da mesma perna atingida no primeiro acidente. Lá se vão mais meses afastado do emprego para recuperação. Hoje, o rapaz já pensa em se desfazer da motocicleta.
Conforme dados do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), de janeiro até novembro do ano passado, foram contabilizados somente na Capital 10.260 acidentes, sendo 7.580 com vítimas e a maioria motociclistas.
Estudo - O médico José Mauro Filho, diretor clinico da Santa Casa e ortopedista, explica que o estudo com perfil epidemiológico das vítimas, foi elaborado para saber quem são essas pessoas que se machucam no trânsito. O objetivo é fazer programas direcionados a este público para tentar evitar acidentes. “O que chama atenção é a quantidade de vítimas de acidentes envolvendo motocicletas".
No setor de traumatologia, 45% dos pacientes são vítimas de acidentes de trânsito, 90% são motociclistas e parte deles politraumatizados, ou seja, com várias lesões. Em torno de 85% dos pacientes são atendidos pelo SUS.
Segundo o médico, são vários os fatores que resultam na grande quantidade de acidentes com motocicletas, como fatores sociais, mobilidade urbana, segurança pública e educação no trânsito.
“A moto é o meio de transporte mais barato, porque o público não atrai e não supri a necessidade da população. Ainda tem a questão da falta de fiscalização e conscientização dos motoristas em seguir as leis. Além disso, parte dos acidentes está associada com consumo de álcool e falta de CNH (Carteira Nacional de Habilitação). O hospital está no final da linha e a prevenção deve ser feita para que os acidentes não aconteçam”, diz.
No ano passado, foram contabilizados 93 óbitos no trânsito, sendo 62 condutores de motos, 17 pedestres, 5 ciclistas, 5 condutores, 3 passageiros e uma não identificada.