Motorista experiente, Paulo Cesar perdeu a vida ao se deparar com bueiro aberto
Em luto, família oscila entre tristeza e revolta por morte de caminhoneiro 11 dias após acidente
A experiência de 10 anos na boleia de caminhão, e de muito mais tempo pilotando motos e no volante de veículos, não livrou Paulo César Santana da Rocha, de 37 anos, de perder a vida no trânsito. O que revolta a família é que a partida prematura aconteceu por um descuido que, para os parentes, não foi do motorista. Pilotando moto modelo Yamaha YBR, ele foi arremessado contra um poste depois de passar por boca de lobo sem grade.
“Além de experiência como motorista de caminhão, ele pilotava moto há muitos anos e nunca sofreu um acidente, nem de carro e nem de moto, nunca”, enfatiza Renata Santana , de 34 anos, irmã de Paulo Cesar. No velório, na tarde desta quinta-feira (8), ela foi a escolhida pela família para falar com a reportagem.
O caminhoneiro deixou esposa, três filhos, quatro enteados e um netinho, de 5 meses. Ainda sem acreditar no que aconteceu, a família não decidiu se vai procurar uma forma de reparação na Justiça. “Nesses dias, a nossa preocupação era só ver a restituição da saúde dele, mas essa não foi a vontade de Deus. Agora, vamos pensar no que fazer”.
Renata conta que o irmão estava voltando da casa de uma enteada, onde havia jantado com a família, na noite de 28 de agosto. O acidente aconteceu quando ele passou a ponte da Rua Rivaldi Albert, no Jardim Morenão, bairro do sul de Campo Grande. Fazia dois meses que havia se mudado para casa no Jardim das Hortências, na mesma região.
Logo depois da ponte estava a boca de lobo sem grade que provocou o acidente, segundo a irmã. Com o impacto, o homem foi jogado contra um poste e teve várias fraturas.
O que agravou o estado de saúde do caminhoneiro foi a demora pelo socorro, disseram os médicos. Paulo Cesar estava sozinho e os parentes não sabem quem acionou a emergência. Ele foi reanimado por equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no local e após estabilização, foi levado para hospital, onde ficou 11 dias internado, mas não resistiu.
O que mais revoltou Renata foi ter lido no registro da ocorrência que a causa do acidente teria sido falta de atenção do motociclista. “Há quanto tempo isso não está assim?”, questiona sobre o bueiro sem tampa e, que segundo a irmã, estava sinalizado com uma placa enfiada no buraco na ocasião do acidente. “Meu irmão perdeu a vida e agora querem colocar ele como culpado”, completa.
A reportagem passou pela rua onde houve o acidente e é possível ver que a boca de logo foi gradeada. Em volta da proteção de ferro que foi recolocada, o cimento parece ainda estar fresco.
Problema crônico – Paulo Cesar não foi o único a morrer em acidente nessas circunstâncias. No dia 31 de julho, José Valmir de Pinho, de 62 anos, morreu depois de cair de bicicleta em bueiro aberto no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Ernesto Geisel, no Centro da Capital.
De acordo com a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), a cidade registra cerca de 130 furtos de tampas dos ralos de águas pluviais por mês.