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Mulheres pardas e da periferia são a maioria na Casa da Mulher

Balanço de atendimentos trouxe até ajuda a adolescentes e 199 mulheres grávidas

Por Maristela Brunetto | 11/03/2025 10:00

Mulheres pardas e da periferia são a maioria na Casa da Mulher
No sábado, Dia Internacional da Mulher, os feminicídios cometidos este ano foram lembrados em ato em frente à Prefeitura (Foto: Clara Farias)

RESUMO

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Mulheres da região do Anhanduizinho, em Campo Grande (MS), representaram 24,4% dos atendimentos na Casa da Mulher Brasileira em 2024, sendo o maior percentual entre as regiões da cidade. O local atendeu 15.064 mulheres no ano passado, gerando 194.124 procedimentos. Segundo o Dossiê Mulher Campo Grandense 2025, a maioria das atendidas são pardas (62,9%), têm entre 21 e 30 anos (29,7%) e renda de 1 a 3 salários mínimos (34,8%). A DEAM registrou 6,7 mil ocorrências de violência doméstica, incluindo 3.503 ameaças e 1.490 casos de vias de fato. Em 2024, foram registrados 11 feminicídios, três a mais que em 2023, e 17 tentativas. A análise dos dados sugere correlação entre violência e vulnerabilidade social, com maiores taxas em bairros periféricos.

As mulheres que moram na região urbana do Anhanduizinho, no sul de Campo Grande, entre as saídas para São Paulo e Sidrolândia, foram as que mais procuraram ajuda na Casa da Mulher Brasileira em 2024, onde fica a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), e serviços do sistema de justiça e psicossociais. Elas correspondem a 24,4% das 4.735 das mulheres cadastradas no sistema Íris, utilizado para tramitar os atendimentos. Mas no ano, foram 15.064 mulheres atendidas no local, resultando em 194.124 procedimentos.

De acordo com o Dossiê Mulher Campo Grandense 2025, publicado hoje no Diogrande, depois das moradoras do Anhanduizinho - onde ficam os bairros Aero Rancho, Los Angeles, Centenário, Lageado e Centro-Oeste, por exemplo - vieram as da região do região Lagoa (15,5%), 14,9% na região Bandeira,  14,7% na região Segredo, 14,6% na região Imbirussu, 5,5% na Região Prosa  e 5,4% na região Centro.

Os recortes nos dados feitos pela Prefeitura de Campo Grande, gestora da Casa da Mulher Brasileira, apontam para uma correlação entre a procura por ajuda e classe social. A análise dos números sugere que são maiores as taxas de violência onde há maior vulnerabilidade social.

Entre os bairros das mulheres que procuraram ajuda estão Panamá, Nova Campo Grande, Caiobá, Aero Rancho, Los Angeles, Centro Oeste, Moreninhas, Noroeste e Nova Lima. Já as maiores taxas de violência são associadas são o Noroeste, Caiobá, Nova Campo Grande, Popular e Santo Antônio, conforme a densidade populacional. As menores taxas de registro estão na região central, como São Francisco, Jardim dos Estados, Bela Vista, Jardim Paulista, Carlota e Chácara Cachoeira.

O levantamento apontou que 199 mulheres que procuraram ajuda na Casa informaram estar gestantes. Destas, 10 eram menores de 18 anos.

Mulheres pardas e da periferia são a maioria na Casa da Mulher
Mapa das regiões urbanas de Campo Grande (Foto: Reprodução)

Idade – O Dossiê fez o recorte por uma série de características das mulheres que procuraram ajuda. A principal faixa etária foi entre 21 a 30 anos (29,7%) e 31 a 40 anos (24,8%). Mas houve casos de idosas também pedindo ajuda contra a violência, mulheres com mais de 80 anos corresponderam a 0,5% dos registros e as com idade menor de 18 anos somaram 3,1%.

Mesmo tão jovens, não faltaram relatos de violência, algumas já vivendo com companheiros. Das adolescentes, só 5% declararam que agressores não eram pessoas de seu convívio. “Tais informações alertam para a importância de ações preventivas a respeito dos relacionamentos abusivos e violências para meninas e meninos, na fase escolar, visando o fortalecimento das meninas e adolescentes e a promoção de relações saudáveis e sem violência, desde o namoro”, consta em trecho analisando os números.

Mesmo sendo adolescentes, os companheiros foram apontados em 32,3% dos atendimentos e o namorado foi em 6,8%. O levantamento confirma o que já se sabe por quem acompanha os casos de violência doméstica: os ex não aceitam o fim do relacionamento e também se tornam agressores- companheiros (19,9%) e namorado (14,3%).

Cor/raça- Das 4,7 mil cadastradas em 2024, 62,9% se identificaram como pardas, 29,3% da cor branca e as demais como amarelas e preta, além de 0,7% indígenas. Estas somaram 32 atendimentos, sendo a maioria terena.

O Governo Federal identificou a violência contra mulheres indígenas como um problema no Estado, tanto que ao anunciar uma nova Casa da Mulher Brasileira em Dourados, foi informado que a unidade deverá estar próxima à Reserva Indígena, que fica na estrada de acesso a Itaporã.

Sobre a orientação sexual, 73,5% das mulheres atendidas se declararam heterossexuais, 1,1% bissexuais, 0,4% homossexuais e 25% não informaram a orientação sexual; 15 mulheres que se identificaram como transexuais. O Judiciário entendeu que a Lei Maria da Penha, que trata de violência doméstica deve ser aplicada também para mulheres trans.

Condição financeira -Outro recorte do perfil das mulheres atendidas foi feito com base na renda apontada por elas. A maior porcentagem está entre as que declararam renda mensal entre 1 e 3 salários mínimos (34,8%) seguidas das que declararam renda de mais de meio até 1 salário (31,4%). O menor grupo está entre as atendidas que recebem mais de 10 (dez) salários mínimos (0,3%). Chama atenção o fato de que 20,9% declararam sequer ter renda.

Mulheres pardas e da periferia são a maioria na Casa da Mulher

A violência mês a mês- Um gráfico mostra os picos nos registros, considerando 2023 e 2024, sendo nos meses de janeiro ( com 1.441 atendimentos), outubro, novembro, março e abril.  Em alguns meses houve redução em relação ao ano anterior, como março, julho e agosto. Maio foi o mês com menor número de atendimentos, com 1.119 mulheres cadastradas ao sistema de registro.

De acordo com os dados da DEAM, instalada dentro da Casa da Mulher Brasileira, os principais crimes contra as mulheres registrados na unidade em 2024 são os relacionados à violência doméstica (6,7 mil ocorrências, como ameaça (3.503), vias de fato (1.490), injúria (3.328), difamação (136), calúnia (32), lesão corporal dolosa (79), estupro (54). Um mesmo boletim de ocorrência pode conter o relato de uma de um tipo de violência, o que permite concluir que o número de crimes registrados é superior ao de boletins de ocorrência.

Outros crimes registrados contra as mulheres na DEAM, em 2024, foram: perseguição por razões do sexo feminino (383), lesões corporais recíprocas (266), divulgação de cena de estupro, de sexo ou de pornografia (49), estupro (50), estupro de vulnerável (42), importunação sexual (134).

O crime mais grave, que até ganhou nome próprio no Código Penal, feminicídio, tirou 11 vidas em 2024, 3 a mais que em 2023. Em 2025, já são 6 mortes. As tentativas em 2024 somaram 17, duas a menos que no ano anterior.

Mulheres pardas e da periferia são a maioria na Casa da Mulher

A Casa tem psicólogas e assistentes sociais que realizam o acompanhamento psicossocial e quem procura ajuda ainda tem um serviço de abrigamento temporário, de 48 horas, para mães e filhos em situações de risco iminente de morte, tempo para a liberação da medida protetiva e elas buscarem um meio de se manterem em segurança.

O município tem um auxílio de R$ 500,00 para ajudar em um recomeço para aquelas que encerram o relacionamento abusivo. Recentemente, foi aprovada lei pela Assembleia Legislativa, ainda não sancionada, prevendo auxílio pago pelo Estado de um salário mínimo para um recomeço para mulheres abrigadas na Capital.

No último mês, o poder público foi fortemente criticado pela qualidade dos serviços prestados às mulheres que denunciam violência, após o assassinato da jornalista Vanessa Ricarte. Ela enviou um aúdio a uma amiga em que relatava insegurança sobre os encaminhamentos que foram dados ao seu caso. O Governo do Estado iniciou uma revisão de atendimentos para buscar falhas e como aperfeiçoar os serviços.

Até mesmo a gestão da Casa está sendo discutida. Ela é feita pela Prefeitura, mas a própria prefeita Adriane Lopes defendeu que o comando seja feito de forma compartilhada.

Entre os anos de 2015 e 2024, a Casa da Mulher Brasileira atendeu 138.330 mulheres na recepção, incluindo situações de retorno. Considerando os atendimentos, por setor, e os encaminhamentos para serviços próprios do Município ou outros órgaos, como o IMOL para exames de corpo de delito, os números chegam a 1.301.168 atendimentos e encaminhamentos, conforme o Dossiê deste ano.

Serviço- A Patrulha Maria da Penha pode ser acionada pelo número 153, e o número para chamadas na Central de Atendimento à Mulher é o 180.

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