No bairro onde Carnaval é tradição, domingo é de silêncio e saudade da Cinderela
“José Abrão está triste, parado. Se fosse nos anos anteriores, esse horário a praça estaria lotada de gente”, diz morador
O bairro José Abrão amanheceu triste, sem a alegria dos foliões que tomavam conta da praça da região onde o Carnaval era o ano inteiro. Sem samba, fantasia e aglomeração, o dia é marcado por silêncio e muita saudade da época em que os moradores se união para confeccionar o carro alegórico e vibrarem juntos pela escola de samba Cinderela.
“José Abrão não combina com silêncio. Nesse horário, em anos anteriores, a praça estaria lotada de gente. Era uma época bem agitada, ainda ontem estava lembrando do tempo de Carnaval”, diz o aposentado Carlos Alberto Correia Lopes, 60 anos.
Ele mora no bairro há 36 anos, e foi alí que viu o irmão Gilberto Carlos Correia Lopes, o Gilbertão, dedicar a vida à escola de samba Cinderela, que ajudou a transformar a folia em tradição na região.
Na manhã de hoje (14), a rua Arnaldo Horta que fica em frente à praça, estava às moscas. Era nesse endereço que a euforia começava, com os foliões reunidos ajudando nos preparativos do carro alegórico e ensaiando a todo vapor para o dia da apresentação do desfile de Carnaval que acontecia na Praça do Papa. Nesse ano, a festa foi suspensa por conta da pandemia da covid-19.
“Saudade desse tempo, é uma época que me faz lembrar bastante do Gilbertão, que faleceu há quatro anos. Nossa família toda mora no bairro, a gente sempre o ajudava na preparação do Carnaval. Ele era apaixonado pelo Carnaval e fez parte do grupo de samba Mistura de Raça”, recorda.
O grupo inclusive era um dos principais a agitar a praça do bairro, com aquela roda de samba raiz. O som e a cantoria faziam os moradores entrarem na dança todo domingo à noite, quando acontecia a festa do projeto Amigos da Cinderela.
Para Carlos Alberto, o silêncio nunca fez parte da região. “Se fosse antes, estaríamos pra lá e pra cá com meu irmão. Foi um tio meu quem criou a primeira escola de samba da cidade, a Acadêmicos do Samba, depois que surgiu a Cinderela”.
Sem a euforia do passado, o desejo do morador é que tudo volte a ser como antes. “Queria meu irmão vivo e a festa tradicional de Carnaval novamente”, destaca.
A cabeleireira Deise Correia Lopes, 52 anos, é outra que sente falta do rufar dos tambores. Ela é diretora da escola de samba Cinderela há dez anos e relata a tristeza sem a festa. “Está sendo uma barra. O Carnaval era nossa vida, desde pequena estava no meio. Faz muita falta”.
Ao pensar no Carnaval, alguns flashes voltam a memória e a faz recordar do calor da aglomeração. “Reunia todos, a praça era lotada, com pagode todo fim de semana. Era saudável”, finaliza.