No Morro do Mandela, o protesto é para que Maria tenha um velório digno
Familiares e moradores atearam fogo em madeira bloqueando ruas de acesso a favela devido a demora de 6h em remover o corpo da mulher
Enquanto envolvidos com o transporte brigam pela redução do preço dos combustíveis e motoristas se desesperam para abastecer os carros para não ficarem a pé, no Morro do Mandela, a família de Maria Jussara Marcondes, 50 anos, só quer um velório digno para a mulher. O corpo dela, ficou mais de 6h em casa à espera da chegada da funerária.
Maria Jussara morreu na manhã de hoje (24) no barraquinho dela, depois de brigar com um dos quatro filhos, segundo o relato contado no lugar. Conforme familiares, além de sofrer problemas psiquiátricos, o rapaz também seria dependente químico.
Revoltados com a demora em remover o corpo, familiares resolveram bloquear ruas de acesso a favela, para chamar a atenção de qualquer um que poderia resolver a situação. Para isso, atearam fogo em pedaços de madeira, porém os ânimos foram acalmados com a chegada do carro fúnebre no lugar.
Para a maioria, este momento é de mais tristeza, mas para os familiares de Maria o que imperou foi alívio. A princípio, conforme nora da mulher, de 19 anos, um desencontro de informações entre prefeitura, IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) e funerária teria provocado a demora.
A jovem conta que todos no bairro sabiam dos conflitos entre mãe e filho. No entanto, a discussão de ontem à noite acabou levando a mulher a buscar atendimento no posto de saúde do bairro Nova Bahia. Medicada, Maria recebeu alta nesta manhã, porém morreu horas depois. A principal suspeita da família é de que ela enfartou.
“Cheguei e ela [Maria] estava morta. Foi desgosto porque meu irmão tem problema com drogas”, desabafa um dos filhos, José Irineu, 31 anos.
O marido, Oseias Corrêa, 40 anos, conta que ficou ao lado de Maria a noite toda no posto e garante que ela “passou muito nervoso”.
Ao ver o corpo sem vida, os familiares chamaram os bombeiros. Por volta das 9h, o serviço póstumo foi acionado. “As condições são muito precárias. Do atendimento médico até na hora da morte só foi descaso. A sensação é de que não existimos”, diz a nora da mulher, que não quis se identificar.
O corpo de Maria foi levado para o IMOL onde exames apontarão a real causa da morte dela. Enquanto isso, familiares afirmam que “continuam na correria” para conseguir enterrar a mulher, já que falta recursos e até mesmo informações para os familiares.