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Capital

Número de moradores de rua cresce 116% e preocupa no Centro da Capital

Renan Nucci | 10/03/2015 22:47
Polícia Militar acompanha crescimento do número de moradores de rua no centro da Capital (Foto: Renan Nucci)
Polícia Militar acompanha crescimento do número de moradores de rua no centro da Capital (Foto: Renan Nucci)

Problema social resulta em onda de violência no Centro de Campo Grande. De acordo com levamento feito pelo Conselho Comunitário de Segurança da Região Central entre 2011 e 2014, o número de moradores de rua da região cresceu 116% neste período, e hoje chega a aproximadamente 1.300. Uma parcela deles pode ser responsabilizada pela onda de pequenos furtos “por encomenda” que preocupa comerciantes.

Segundo o presidente do Conselho, Adelaido Luiz Espinosa Vila, embora tenham sua parcela de culpa em algumas situações, os desabrigados também são vítimas. “Muitos vieram de outras cidades a trabalho, foram demitidos e ficaram sem condições de voltar para a casa, seja por falta de recurso, ou por vergonha do fracasso. Sem apoio, entram no crime em busca da subsistência. Eles que nos vitimam, também são vítimas. É um grave problema social que vai além das atribuições da polícia”, afirma. "Não basta só prendê-los", completa.

Desamparados, muitos deles acabam aliciados por traficantes e, quando menos percebem, se tornam reféns das drogas. Para conseguir dinheiro e alimentar o vício, chegam a pedir esmola nos semáforos, trabalhar como flanelinhas ou guardadores de automóveis e, em casos extremos, recorrem a furtos e tráfico em pequenas quantidades. “Tudo que eles subtraem geralmente tem um comprador que os motiva. Em alguns casos, eles furtam itens específicos, como se fosse por encomenda”, aponta.

Vítimas - A loja onde trabalha Evanildo Francisco dos Santos, 31 anos, foi alvo de ladrões por cinco vezes somente durante o período de vendas de Natal, quando o fluxo no comércio cresce significativamente. Ele conta que o estabelecimento localizado na Rua 14 Julho possui sistema especializado de segurança com sete câmeras visíveis logo na entrada, mas que nem mesmo todo este aparato tem sido suficiente diante da ousadia, ou desespero, destes  indivíduos. “Parece que nem se importam. Entram, se passam por clientes e depois tentam fugir com alguma coisa”, explica.

Apesar dos prejuízos não serem tão altos, os transtornos são. Geralmente algum funcionário precisa deixar seu posto de trabalho para ir até a delegacia mais próxima. “Isso sem falar no custo pra instalação do sistema de monitoramento. Tivemos que contratar uma equipe específica só para isso. Mesmo assim ainda ficamos inseguros e desconfiados quando alguém suspeito se aproxima da loja”, alega o gerente.

Trabalhando no centro há mais de dez anos, sendo três no atual emprego, ele viu tanta coisa que até consegue identificar de longo certos criminosos. “Sempre tem aquelas figurinhas carimbadas que assustam a gente. Sabemos que quando eles estão por perto, algum problema vai acontecer".

Evanildo disse que durante as compras de dezembro passado, a loja onde trabalha sofreu vários furtos. (Foto: Renan Nucci)
Evanildo disse que durante as compras de dezembro passado, a loja onde trabalha sofreu vários furtos. (Foto: Renan Nucci)

Em uma ótica e relojoaria da Rua Rui Barbosa, a empresária Claudete Silva teve prejuízo estimado em R$ 15 mil na última semana de janeiro. Os ladrões invadiram o local e furtaram óculos, relógios, outros produtos e dinheiro. "O rombo pode ser maior; ainda não consegui contabilizar tudo o que foi levado", disse. Estabelecimentos vizinhos também foram atacados da mesma maneira. Claudete e Nilva Pinho Neves, dona de loja de confecções, acreditam que sejam o mesmo grupo, pois "os crimes foram quase no mesmo dia, e de maneira semelhante".

Realidade – Adelaido lembra que o objetivo central do estudo é apresentar dados que possam auxiliar o poder público na elucidação deste problema que interfere no cotidiano das cerca de 300 mil pessoas que transitam diariamente pela área central da cidade, isso sem contar que vive por lá. “Temos feito ações paliativas como doações de roupas e alimentos, mas buscamos, principalmente, medidas definitivas como por exemplo, devolver o desabrigado para sua terra natal, ou ajudá-lo a conseguir trabalho para sair da marginalidade".

A 1ª Tenente Fabrícia Flores, da 5ª CIPM (Companhia Indepentende da Polícia Militar), destacamento responsável pelo monitoramento do Centro, afirma que os policiais estão atentos quanto à segurança da região, e por isso, têm realizado frequentes operações e abordagens com o intuito de reduzir a criminalidade. “Mais do que repressivas, nossas ações também são preventivas”, explica.

A Companhia conta com efetivo de 120 homens e, desde que foi fundada em junho do ano passado, não registrou muitos casos de crimes de maior potencial ofensivo. “O trabalho tem dado resultado. Para se ter uma ideia, somente dois de nossos policiais já efetuaram mais de 100 prisões desde junho, contanto flagrantes, cumprimento de mandados de prisão e foragidos”.

Quanto aos desabrigados, ela lembra que são uma das mazelas da cidade, mas que, no que cabe à PM, tudo tem sido feito. “A gente aborda, conversa e em caso de suspeita os revistamos. Mas se não é encontrado nada de ilícito, não podemos fazer nada, a não ser orientá-los, já que, como cidadãos, possuem o direito de ir e vir livremente”.

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