O 2017 da família de Wesner foi de uma perda que não se explica nunca
Aos 17 anos, Wesner Moreira da Silva foi violentado com uma mangueira de alta pressão em um lava jato
Três de fevereiro de 2017. Sexta-feira. Dia em que a dona de casa Marisilva Moreira da Silva, 47 anos, viu o filho caçula sair para ir trabalhar e voltar onze dias depois em um caixão.
Aos 17 anos, Wesner Moreira da Silva foi violentado com uma mangueira de alta pressão em um lava jato. Ele morreu após duas semanas internado na Santa Casa. Os agressores: o patrão, amigo de infância do adolescente, e um colega de trabalho.
De família humilde, Wesner havia conseguido o primeiro emprego no estabelecimento, na Avenida Interlagos, na Vila Morumbi, em Campo Grande. A renda era para ajudar em casa e desafogar o pai, que luta contra dois câncer. “Ele estava há 4 meses no lava jato e tinha o sonho de servir ao quartel”, disse a mãe que no começo do mês recebeu a equipe de reportagem em casa.
Com a imagem do filho - estampada em cartaz afixado na varanda e na camiseta branca que vestia -, Marisilva contou que desde a morte de Wesner, concentra todas as forças para ver os responsáveis pagar pelo crime que cometeram. Eles respondem ao processo em liberdade.
Segundo a mãe, sempre dizia para o filho que duas pessoas tinham feito mal para ele, mas em compensação havia muita gente torcendo e pedindo a Deus pela recuperação dele. Foram dias de angústia, tristeza e de muita oração. “Acreditava que o meu filho voltaria para a casa. Falava que ele não tinha ideia do tanto de gente que iria visitá-lo assim que saísse do hospital. Não perdi a esperança em nenhum momento”, relembrou. Assista abaixo o desabafo de Marisilva.
Entre idas e vindas do CTI (Centro de Terapia Intensiva) para a enfermaria Wesner dizia para a mãe que era um milagre. "Eu vou sair dessa. O pior já passei”, contou Marisilva, que não conseguiu conter o choro.
O adolescente foi submetido a vários procedimentos cirúrgicos, perdeu a metade do intestino grosso em decorrência da agressão e teve a morte constatada às 13h35 de uma terça-feira (dia 14). Ele sofreu hemorragia grave e parada cardiorrespiratória. Os médicos ainda tentaram reanimá-lo por 45 minutos, mas sem sucesso.
Os réus pelo crime - Thiago Giovanni Demarco Sena, 20 anos, e William Henrique Larrea, 31 anos - juram que o episódio não passou de uma "brincadeira" de mau gosto que terminou em morte. "Isso dói muito. Thiago era amigo de infância do meu filho. Ele vivia aqui. Tomava café da manhã, tereré, almoçava. Ainda não tive oportunidade, mas quando tiver quero perguntar para ele o porquê de tanta maldade?”, questionou.
Três audiências já ocorreram sobre o caso. Agora, Marisilva aguarda o desenrolar da Justiça.“Quero que eles vão para júri popular. Se isso acontecer, peço que o juiz e os jurados julguem com amor. Eles arrancaram um pedaço de mim”, lamentou. O caso é tratado como homicídio doloso, quando há intenção de matar.
Recordação - Caprichosa, a dona de casa guarda as coisas de Wesner com muito carinho, desde o boletim escolar até a primeira roupinha que o filho caçula saiu da maternidade. O quarto do adolescente, decorado com tapete dos personagens bananas de pijamas, ficou para o irmão mais velho de 21 anos. "Olha a letrinha dele. Tão miudinha, mas tão bonita", disse Marisilva ao folhear o último caderno usado pelo filho que cursava o 9º ano.