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Capital

Operação que levou PMs à prisão investiga esquema ainda maior

Áudios aos quais o Campo Grande News teve acesso mostram negociação

Aline dos Santos e Marta Ferreira | 02/12/2017 13:10
Caminhão-baú com carga de cigarro do Paraguai ficou retido em campo Grande. Denúncia é que policiais queriam propina. (Foto: Direto das Ruas)
Caminhão-baú com carga de cigarro do Paraguai ficou retido em campo Grande. Denúncia é que policiais queriam propina. (Foto: Direto das Ruas)

A prisão de dois policiais militares em Campo Grande, suspeitos de cobrarem R$ 150 mil para liberar um caminhão com cigarro vindo do Paraguai, é parte de uma investigação ainda maior que mira o esquema dos “cigarreiros” em Mato Grosso do Sul. Para as prisões dos policiais, os investigadores tiveram a colaboração de um homem que, segundo apurou a reportagem, teria envolvimento com o contrabando.

Áudios aos quais o Campo Grande News teve acesso mostram diálogos em que uma voz, apontada como a de Fábio Garcete,descreve a negociação e os passos para a chegada até os policiais. Garcete foi enquadrado como testemunha no Boletim de Ocorrência que narra as prisões do sargento Alex Duarte de Aguir, 38 anos, e do cabo Rafael Marques da Costa, 28 anos.

Numa das gravações, ele relata que um homem se identificou como Marcelo, disse ser policial, pediu R$ 150 mil e deu prazo de três horas para receber o dinheiro. “Esse Marcelo me pediu R$ 150 mil e deu três horas para mim (sic) arrumar o dinheiro e colocou um monte de gente para cuidar o caminhão (…), inclusive a Polícia Militar tava lá cuidando”.

Conforme os áudios, a liberação foi negociada pessoalmente. Um dos temores do dono do contrabando era de que a carga fosse roubada.

Segundo o Boletim de Ocorrência, equipes policiais – Rotac (Rondas Ostensivas de Ações de Choque) e Rocam ( Rondas Ostensivas com Apoio de Motos) – foram acionadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ontem (dia primeiro). A informação era de que o motorista estava com policiais, que exigiam R$ 150 mil para liberar o caminhão-baú.

O veículo foi localizado na rua Verdes Mares, esquina com a avenida Gunter Hans, no bairro Tarumã. Próximo ao local, havia um veículo Honda Civic. Foi repassado a informação de que o dinheiro seria entregue por Garcete no posto Tarumã.

No posto, equipes do Gaeco observaram que o Honda se aproximou de Garcete. Em seguida, foram abordados o Honda e uma motocicleta, que ladeava o carro. A ação foi perto do posto de combustíveis e próximo ao caminhão. No Honda Civic, estava o sargento, enquanto o cabo conduzia a moto. O documento do caminhão foi encontrado no carro do sargento Aguir. Uma nota fiscal foi localizada no bolso do cabo Rafael.

Em seguida, Fábio e o motorista Rogério Fernandes Mesquita reconheceram Aguir como o policial que exigiu e pegou o dinheiro. O motorista do caminhão reconheceu o cabo como companheiro do sargento e relatou que é o dono de um dos celulares encontrado com Aguir. Os dois policiais foram presos por concussão (exigir vantagem indevida por conta da função) e levados para a Corregedoria da PM (Polícia Militar).

O Campo Grande News apurou que houve pagamento de R$ 30 mil, com cédulas marcadas. O dinheiro estaria com o Gaeco. O Boletim de Ocorrência não informa a apreensão. O documento cita apenas a apreensão de R$ 2, um dólar e cinco mil guaranis. 

Na manhã deste sábado, o caminhão foi levado para a superintendência da PF (Polícia Federal) e o delegado José Otacílio Della-Pace Alves ouviu os envolvidos. A informação repassada à imprensa é de que a investigação está sob sigilo.

A reportagem não conseguiu contato com a Corregedoria da PM. O Campo Grande News tentou contato com Fábio e Rafael, mas os telefones estavam desligados. Os demais citados não foram localizados.

Ouça áudio sobre cobrança de R$ 150 mil:

No áudio 2, diálogo sobre armar flagrante:

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