Ortopedistas estão sem pagamento há três meses na Santa Casa
Cerca de 80% de 30 médicos dessa especialidade depende exclusivamente dos serviços prestados ao hospital
Pelo menos 30 médicos ortopedistas da Santa Casa de Campo Grande estão há três meses sem pagamento. Os profissionais procuraram o Campo Grande News para relatar o que chamam de descaso, já que cerca de 80% depende exclusivamente dos serviços prestados ao hospital.
O regime de contrato de trabalho de alguns é CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que são os que atuam no Pronto Atendimento. “Os demais, a maioria é contratada numa modalidade de autônomos, que são os ortopedistas do centro cirúrgico”, diz um dos profissionais que não quer se identificar.
Há cerca de dez anos atuando no hospital, o médico afirma que esse vínculo de “autônomo”, “na verdade é um vínculo que não existe, porque não tem direito a nada. Os tais autônomos recebem o dia que o hospital bem entender”, revela.
Para piorar a situação, os atrasos são frequentes há pelo menos oito anos, sempre de três ou mais meses. “Me lembro de ter recebido em dia até 2012 por aí. Depois os atrasos são cada vez mais frequentes”, afirma.
O médico relata ainda que o hospital costuma acertar um mês, “e então seguram tudo que da para o próximo e nesta cascata de atrasos já se vão 3 meses, caminhando para o quarto”.
Sobre se os atrasos são apenas aos ortopedistas, o profissional informou que com os médicos de outras especialidades também havia problemas, “mas eles estão transformando a maioria das clínicas em pessoas jurídicas e estão sendo mais pontuais com as PJ do que as pessoas físicas”.
A categoria estuda tornar-se pessoa jurídicas, mas ainda não há nada certo. “porque temos que analisar várias coisas, como valores e riscos, por exemplo”.
Trabalho – Na Santa Casa, segundo o ortopedista que falou com a reportagem, os 30 profissionais realizam cerca de 2 mil cirurgias ao mês, sendo que alguns profissionais, sozinhos, são responsáveis por 100 delas.
E segundo ele, casos graves são cada vez mais frequentes, devido a epidemia crescente de acidentes de trânsito.
“Fizemos um levantamento que, em dois anos, aumentou uma média de 5% ao ano o número de acidentados de moto. São casos gravíssimos que dependem de uma rede de subespecialidades para ter o melhor desfecho possível dos pacientes”, revela.
Além disso, o médico relata o empenho dos profissionais. “Acompanhamos os mesmos pacientes desde a cirurgia, até internação, alta médica e retornos ambulatoriais. Muitas vezes passam de dois anos estes acompanhamentos”.
Por fim, ele pede apoio, já que as ameaças de paralisação não têm surtido efeito junto ao hospital. “Muitos desses médicos ficam isolados de suas famílias por dias e ainda com o aspecto financeiro abalado”.
Em contato com a Santa Casa, o hospital não respondeu sobre a situação devido ao feriado, mas encaminhamento já foi dado, segundo a assessoria.
A reportagem também acionou a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e aguarda retorno.