Para conseguir trabalhar, mãe luta por vaga em Emei para filho caçula
Com três crianças, ela já pediu até para o Conselho Tutelar buscá-las caso não consiga a vaga
Se não conseguir uma vaga, já disse que o Conselho Tutelar pode vir buscar meus filhos, porque não terei condições de cuidar deles e trabalhar. Eu preciso da vaga.”
Essa é uma das falas mais impactantes ditas por Daniele Barbosa dos Santos, de 29 anos, que luta por uma vaga para o filho Brayan, de 1 ano e 4 meses, em uma das quatro Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil) presentes no Bairro Vila Nasser.
Na foto, Danielle segura um papel, emitido pela Semed (Secretaria Municipal de Educação), que indica o lugar que a mãe ocupa na fila por uma vaga na Capital. Em uma delas, Danielle está na 121ª posição.
O cenário desespera a mãe solo que não consegue trabalhar - o suficiente para manter o sustento da família - por não ter com quem deixar o bebê. Além de Brayan, Danielle é mãe de um menino de 11 anos e uma menina de 9. A situação se modificou após a separação recente do marido, com quem dividiu a vida por três anos e teve o filho caçula.
À reportagem, Danielle se emocionou em ter que expor a situação em que vive. Ela comentou que antes da separação trabalhava durante a noite e deixava os filhos com o marido ou avó. Assim, podia trabalhar e ganhar mais pelo adicional noturno.
“Como ele foi embora, preciso dessa vaga porque tive que mudar de período. Antes, minha avó ficava, ou pagava babá porque ganhava um pouco a mais. Como agora estou de dia e o bebê está ficando enjoadinho tive que abrir mão da noite pra ficar com ele. Eu fui no Conselho Tutelar e disse que se não arrumasse a vaga eles teriam que levar as três crianças, porque não tenho condições.”
Ela trabalha como auxiliar de produção e como freelancer em lanchonetes ou como diarista nos estabelecimentos comerciais. “Eu não tenho ninguém para deixar o bebê, ganho R$1.300,00, pago mil de aluguel. Tá muito difícil. Minha cabeça está a mil. Se não aparecesse esse free de noite estava passando fome. O pai dos mais velhos paga pensão de R$ 300,00, mas o dinheiro não é garantido. Ele paga quando quer, preciso sempre entrar na Justiça”. De acordo com ela, o pai do mais novo paga R$70,00 ao mês de pensão.
Vagas - Danielle comentou que entrou em contato com a Semed, mas que não recebeu previsão de abertura de novas vagas até o momento. “Fui ao Conselho Tutelar duas vezes, falaram que mandaram papel para Semed. Na defensoria, eu entrei agora dia 17, mas ainda vai marcar o dia da audiência pra eu ir lá. Meu filho está ficando com a babá com dinheiro que nem sei se vou conseguir”, disse.
Além da vaga na Emei, Danielle deseja uma oportunidade para os outros filhos em um projeto intitulado "convivência de fortalecimento de vínculo", feito no Cras Vila Nasser.
Não sei mais em que recorrer, se eu deixar sozinho em casa vou presa. Não tenho como ficar esperando. Meu corpo também está cansado, preciso trabalhar dia e noite pra conseguir manter. Não tenho benefício social nenhum. Esses dias estava fazendo janta, acabou o gás, pensei “meu Deus e agora? Sorte que tem gente que me ajuda de vez em quando”, finalizou.
Outro lado - Em resposta, a Semed informou que Danielle fez a solicitação da vaga no dia 9 de maio. “Logo que surgir a vaga, a mãe da criança será acionada por telefone para realizar a matrícula”.
Anteriormente, a pasta ressaltou ao Campo Grande News que para o ano letivo de 2023, a Secretaria Municipal de Educação disponibilizou 6.404 novas vagas nas Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis). Entretanto, a Semed não respondeu quantos pais estão na fila por uma vaga na Capital, muito menos qual a previsão para abertura de novas vagas.
“Atualmente, existem 106 Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis) em Campo Grande, que atendem 20.301 alunos dos grupos 1 (a partir de 4 meses) ao grupo 5 (crianças que completam 5 anos até 31 de março). Cumpre esclarecer, que parte das 99 escolas de ensino fundamental também oferecem as etapas obrigatórias de ensino da educação infantil, que são os grupos 4 e 5.”
A pasta acrescentou que a secretaria vem aplicando o número de vagas em Emeis desde 2017. Além disso, evidenciou que foram 15 novas unidades incorporadas a Reme (Rede Municipal de Ensino), entre elas nove novas, quatro municipalizadas e dois prédios alugados.