Pedestre tem deveres, mas segue como parte mais frágil nas ruas de Campo Grande
Diretora de educação para o trânsito ressaltou as obrigações que os pedestres e motoristas devem ter
Na manhã desta sexta-feira (12), o aposentado Airton Oliveira, de 80 anos, que mora na Rua do Pandeiro, no Bairro Tiradentes, voltava para casa depois de passar no mercado. Ele usava a rua para se locomover, ao invés da calçada.
O pedestre é a parte mais frágil do trânsito, tem obrigações e pode tomar algumas medidas para reduzir chance de acidentes, mas todos os condutores devem estar de acordo com normas e tomar cuidado nas ruas. Isso é o que ressalta a diretora de Educação para o Trânsito do Detran (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul), Elijane Coelho, ao Campo Grande News.
Segundo ela, o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) prevê infrações a pedestres, mas não há regulamentação sobre como, de fato, as penalidades devem ser aplicadas. “Não foram definidas até hoje, apesar do CTB ser de 1998. Ainda não aconteceu regulamentação sobre como penalizar pedestres e ciclistas, não foi viabilizado o sistema para que as penalidades sejam aplicadas.”
Airton justifica que usava a rua ao invés da calçada devido à falta de estrutura e a presença de obstáculos, como postes e árvores, que fazem com que muitas pessoas optem por andar na via destinada a carros. “Dá uma olhada na calçada. Elas são irregulares, não têm condição. A gente corre dois riscos – um por estar na rua e outro por estar na calçada. Na rua, posso ser atropelado e na calçada, você pode cair.”
Segundo ele, o próprio filho, de 40 anos, já foi atropelado duas vezes e na segunda, ficou hospitalizado durante cinco dias. “Nosso bairro precisa de mais atenção do poder público e o maior risco na rua é o caso de motociclistas, que muitas vezes passam correndo.”
Quando vou no mercado, utilizo a faixa. Costumo utilizar a calçada que é mais espaçosa, mas tomo muito cuidado, porque mesmo na faixa, é perigoso", diz o aposentado Airton Oliveira.
A diarista Dalva Maria Demenciano, de 62 anos, retornava do mercado pela Avenida Júlio de Castilho, e atravessava fora da faixa “É uma questão de hábito”, justifica. “Quando a gente percebe, que não está muito movimentado, você acaba passando. Utilizo quase sempre, mas a gente acaba relaxando, quando tem um movimento mais lento.”
Perigo – Na quinta-feira, 11, um homem de 74 anos foi morto atropelado por uma moto no encontro das avenidas Fernando Corrêa da Costa com Calógeras. O motociclista relatou que o pedestre atravessava fora da faixa com o sinal aberto.
Entre os anos de 1998 e 2020, Campo Grande teve 769 óbitos de pedestres em acidentes de trânsito, conforme dados do Ministério da Saúde. Desses, a maioria foi com veículos (407). Em seguida, tiveram registros de colisões com caminhões (203), motos (82), veículos pesados como ônibus (75) e, ao menos, um com veículo ferroviário e outro com veículo não motorizado.
O estoquista José Aguilera Netto, de 21 anos, andou por mais metros na calçada até chegar na faixa de pedestre, para atravessar e ir até o CRS (Centro Regional de Saúde) do Tiradentes. “Costumo respeitar a sinalização, porque estou nas duas situações. Sou motorista e pedestre também. Quando estou na direção, costumo parar, quando tem a faixa de pedestre, mesmo não tendo semáforo, uso ela.”
A faixa está ali porque é uma sinalização e tem que ser usada. Você percebe que tem muitas pessoas que atravessam fora, porque dá tempo de atravessar. É quando pode acontecer um acidente”, diz José.
Cuidados - Coelho reforça a importância em andar na calçada e utilizar a faixa de pedestres, sempre que possível pelas condições materiais das vias públicas. Caso não haja as listras no chão, por exemplo, a recomendação é atravessar a rua nas esquinas. “Não existindo a faixa, deve atravessar próximo à esquina, de maneira reta e não na diagonal, onde vai ficar mais tempo na via.”
Em geral, deve-se evitar uso de celulares e fones de ouvido, que podem tirar a atenção durante o deslocamento e impedir com que se ouça o barulho de veículos automotores. “Tem que ter atenção no deslocamento. Alguns aparelhos tiram a atenção e atrapalham para ouvir sons de ambiente como buzina ou motor de carro.”
É claro que existe um procedimento adequado do pedestre para andar na faixa, usar a calçada. Mas cabe a quem está conduzindo o veículo dar prioridade ao pedestre. Acho mais importante alertar os condutores a respeito disso e lembrar que todos somos pedestres", diz a diretora.
Ela lembra que todos os motoristas, em algum momento, descem do carro e voltam à condição de pedestres e que, portanto, é importante haver uma unidade no trânsito. “A estrutura urbana para ser atraente ao pedestre, de forma segura, precisa ser desenvolvida. Isso vale para todos os lugares.”
Em outros casos, como pedestres circulando em ciclovias por exemplo, por mais que o espaço seja destinado inicialmente ao condutor de bicicleta, muitos pedestres utilizam o local por conta da falta de locais acessíveis e seguros para caminhar. “Em várias cidades você não tem vias adequadas. Quando não há local adequado, pedestres acabam usando a ciclovia."
“É importante o pedestre ter todos os cuidados de proteção à sua vida, nós somos responsáveis pela nossa segurança, mas os condutores têm de praticar também. Cada qual tendo consciência do seu papel e da sua responsabilidade, juntos, a gente consegue preservar vidas.”