Prestadores de serviços são maioria na fila para pedido do seguro-desemprego
“Ninguém quer gastar dinheiro, principalmente com empregada”, disse Rosângela, na fila do seguro depois de perder o trabalho
A quebra em cadeia de uma crise já sem precedentes após quarentena global chega a Campo Grande e o reflexo é, desde ontem, fila imensa para atendimento na Funsat (Fundação Social do Trabalho), de gente que fica mais de 5h em pé e chega às 3h. Mas o maior agora não é trabalho, é seguro desemprego.
Ontem, era 1 pedido a cada dois minutos. Hoje, a procura segue, principalmente entre prestadores de serviços e gente que trabalhava no comércio.
Depois de perder o trabalho, para muito o remédio é rotina para lidar com a realidade após perder um trabalho que durou anos e anos.
É assim que tem vivido desde o mês de março a doméstica Rosângela Santos de Araújo, 41. Assim como ela, a maior parte dos trabalhadores que estavam na fila na manhã desta quarta-feira (8) são mulheres. Rosângela trabalhou para a mesma família durante 7 anos. Foi demitida porque a patroa também perdeu o emprego.
“Ninguém quer gastar dinheiro, principalmente com empregada", disse Rosângela.
"Eu não esperava isso de jeito nenhum, fiquei até doente. Estou na base do remédio. As contas não esperam, todo mês está lá na caixinha do correio”, conta, em desespero.
No meio de tanta brutalidade, de repente, ela ainda se diz sortuda. Tem casa própria, diz. “Moro na Vila Nasser. Por sorte não moro de aluguel. Moro com meu marido que é pedreiro, autônomo, com meu filho de 22 e uma filha adolescente de 15”, foi contando ela.
O marido também está parado porque os canteiros de obra reduziram. “Vai ser um período complicado. Sinceramente eu não sei o que fazer. Estou tentando trabalhar como diarista, mas com essa situação ninguém quer contratar, fala para esperar o coronavírus passar para ver como vai ficar”, emenda.
“Muitas pessoas estão em casa, então elas mesmas limpam”, finaliza.
Na frente dela, mais de 40 pessoas e eram 7h30, uma hora antes do atendimento começar. “Você vem, olha o tamanho dessa fila, é complicado”, olha ela para as outras pessoas.
Demissão também foi o que levou a costureira Janete Siqueira da Silva, 47. Ela trabalhava há um ano e meio para uma loja que tem produção própria de roupas. As duas unidades da marca estão localizadas em shoppings, fechados pela Prefeitura como medida de contenção do coronavírus. O anúncio da demissão dela e de mais 7 pessoas veio no mês de março.
“Os mais velhos foram dispensados. Foi um baque. Eu gostava de trabalhar lá, gostava da minha área e do meu setor. O patrão falou que se as coisas melhorarem volta a contratar, mas não é certeza”, conta.
“Fico na esperança porque eu gosto do lugar”, diz Janete.
“Até penso em procurar serviço, mas agora não está tendo. Cheguei às 7h”, afirma ela, sentada na calçada e de máscara.
Maria Hermínia, 31, foi demitida junto com outras duas funcionárias de uma loja de brinquedos que também funciona em shopping center. A notícia da demissão veio de uma chamada telefônica, quando ela tinha acabado de voltar de férias no dia 3 de março.
“Agora as coisas só pioraram. Antes já era difícil, com o corona ficou pior ainda”, comenta Maria Hermínia.
“Na minha casa só eu trabalho. Tenho duas filhas, uma de 13, outra de 10 e um menino de 4. Na minha casa só eu trabalho, moro com meu pai de 63 e a minha mãe, de 57. Não esperava essa situação, me pegou de surpresa”, conclui.