Progresso prometido não chega a bairro e placas de “vende-se” tomam conta
Projeto era asfaltar bairro, o que levou muita gente a investir em imóveis e ver o dinheiro encalhar

A falta de estrutura no Jardim Noroeste, em Campo Grande, é comprovada pelas muitas placas de terrenos e imóveis à venda. Por vários anos, o bairro foi colocado como oportunidade pelos terrenos baratos e promessa de expansão, hoje, virou até sinônimo de área invadida.
Alguns investidores otimistas construíram, inclusive, imóveis para vender, mas viram o dinheiro ficar "encalhado". O bairro tem terra, ruas sem asfalto, buracos, falta de drenagem e violência compondo o cenário.
A situação é evidenciada pelo mecânico Júlio César Campos, de 29 anos. Ele mora há 3 anos, na Rua Borborema, que não tem asfalto. O que mais preocupa ele é a falta de reforço na segurança, o que poderia amenizar o medo da proximidade com os principais presídios no bairro: o Instituto Penal e o de Segurança Máxima. “Aqui tem muito assalto. Passou das 22h, se andar com o celular na mão já é roubado”, comentou.
Questionado sobre a vontade das pessoas em mudar do bairro, o morador logo lista os problemas que contribuem para isso. “Asfalto ruim, quando chove nem Uber entra aqui; falta de segurança e o presídio desvalorizam o bairro. Aqui está esquecido”, lamentou Júlio.
A dona de casa Deise Flávia Mel, de 31 anos, comprou um terreno na Rua Água Branca, em 2019. Ela lembra que quando adquiriu o bem, o bairro era totalmente diferente da realidade atual.
Segundo ela, não tem encanamento, não tem água e nem luz de qualidade. Ela reclama também do matagal em toda a extensão da rua.
“Quando comprei não tinha todo esse mato, agora, aparece até bicho. Quando chove, não dá para sair, tem alagamento”, pontuou acrescentando que às vezes bate arrependimento.
Em nota, a Prefeitura de Campo Grande informou que está concluindo os trâmites burocráticos para dar a ordem de serviço para obras de drenagem, bacia de contenção de águas e pavimentação do Jardim Noroeste.
Mercado imobiliário - De acordo com a presidente do Sindimóveis/MS (Sindicato dos Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul), Luciana de Almeida, o Jardim Noroeste teve período de bastante crescimento em 2016, quando os investidores vislumbraram a oportunidade de um bairro novo a ser construído, aquecendo o mercado imobiliário na época.
“A população do Jardim Noroeste cresceu exponencialmente, muitas invasões de áreas também aconteceram, porém, o desenvolvimento de toda infraestrutura necessária para atender a população segue a passos lentos”, destacou.
A representante do sindicato lembra ainda sobre algumas questões que afastam novos moradores do bairro. Carros atolados, alagamentos, crateras que impossibilitam o trânsito e inundações em residências são alguns dos motivos, segundo a profissional.
Comerciantes pensam duas vezes antes de investirem no bairro, pois o risco de prejuízos é grande. A população do Jardim Noroeste sofre com isso e o mercado imobiliário sente diretamente, pois com a tentativa de evasão do bairro, comprovada pelas muitas placas de imóveis a venda, alerta que é realmente necessário o poder público olhar para região”, disse Luciana.
Apesar disso, na visão do presidente do Creci/MS (Conselho Regional de Corretores de Imóveis 14ª Região), Eli Rodrigues, as circunstâncias que proporcionavam situações constrangedoras estão ficando no passado, devido à necessidade de moradia.
“Com desenvolvimento e a necessidade de moradia, o pessoal vai relevando tudo isso. Ainda está viável a compra de lotes para fazer construções. Isso mudou aquele estigma que tinha, o bairro mudou completamente hoje”, avaliou.
Eli ainda completou dizendo que “as coisas ruins que se falavam, ficou tudo para trás, a necessidade falou mais alto. Todo mundo foi e está lá hoje, o que é o Noroeste”, concluiu.
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