Proximidade de ninho e transformador mata araras-canindé eletrocutadas
Instituto Arara Azul pediu readequação do equipamento à Energisa para evitar novas mortes
Enquanto embelezam com suas cores o céu da Rua Mirangaba, que fica no Bairro Parque dos Novos Estados, em Campo Grande, as araras-canindé nem desconfiam do risco de morte que correm.
Só ali, cinco aves dessa espécie morreram eletrocutadas desde julho deste ano, em fios do transformador que fica bem em frente a uma palmeira-imperial. Por ser alta e oca, a árvore acaba sendo procurada para pousarem ou fazerem ninho.
A palmeira fica no quintal do aposentado Samuel Borim Caetano, 62. Foi ele mesmo quem quis transformá-la numa "casa de arara", ao retirar as folhagens por conta própria. "Ficavam caindo em cima da fiação, por isso, resolvi arrancar todas e deixar só o tronco para as araras pousarem", explica.
A intenção foi boa, mas o morador se arrepende. Não sabia no que poderia resultar. "Já que tem só uma palmeira, elas ficam disputando o território. Vem um casal e pousa lá. Daí vem outro atrás, fica parado no transformador e acaba levando o choque", conta.
Ele cogita remover a árvore para evitar mais mortes. Para isso, terá que pedir autorização para a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana). É que a espécie vegetal é legalmente protegida e o morador pode ser multado se fizer o corte sem permissão.
Tem outra solução - Moradora da casa onde fica o poste com o transformador, a empresária Eliana dos Santos, 49, afirma que a morte de uma das araras chegou a causar explosão do transformador e deixar praticamente todo o bairro sem energia.
Se deparar com as aves mortas não é nada agradável. "É uma cena bonita de ver quando estão aqui em frente de casa, mas também é muito triste vê-las mortas. A gente chega a chorar", conta. Até patas amputadas devido ao choque elétrico já foram encontradas.
Elaine diz que houve pedido para a equipe técnica da concessionária de energia elétrica da Capital, a Energisa, colocar uma proteção nos fios. O problema não foi resolvido, no entanto.
O Instituto Arara Azul, que desenvolve trabalho de proteção à espécie em Mato Grosso do Sul, foi acionado pelos moradores para ajudar. Quanto à situação, a bióloga Larissa Tinoco explica que houve falha na comunicação na hora de receber o relato, mas que o problema poderá ter solução sem que seja necessário cortar a árvore.
"Até esta semana, não era do nosso conhecimento que o transformador causava os acidentes. Moradores acreditavam que era na fiação, daí acionamos a Energisa para mexer nela", detalha a integrante do instituto. "Agora, sabemos que a necessidade é na adequação do circuito do transformador para evitar mais mortes, e não nos fios", diz ela.
Um novo chamado foi aberto pelo próprio instituto, dessa vez indicando que é no equipamento que as mortes ocorrem. A visita é aguardada. "Nesses casos a Energisa sempre age o mais rápido possível. Muitas vezes, eles vão assim que são acionados. Há casos em que precisa haver desligamento da rede elétrica, por isso, tem que ser programado e demora alguns dias", diz a bióloga, que já acompanhou outros casos assim na Capital.
A assessoria de imprensa da Energisa foi procurada pelo Campo Grande News para responder se já houve ou não a readequação do transformador da Rua Mirangaba. Ainda não houve resposta. O espaço segue aberto.
O que fazer - Entre outras frentes de trabalho, o instituto presta suporte para moradores que constatam risco de morte às araras relacionado à fiação elétrica nos centros urbanos. Para pedir ajuda, basta ligar para (67) 3222-1205.
Em casos como o do transformador do Parque dos Novos Estados, a própria entidade aciona a concessionária e solicita providências para evitar as mortes.
Só que, infelizmente, nem todos os acidentes são evitáveis. "Realmente é triste, mas não temos como evitar todos os acidentes. O que podemos é minimizar os impactos com essas ações. É muito importante a população entrar em contato e nos avisar para encaminharmos a demanda para a Energisa", finaliza a bióloga.
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