Saudade de quem partiu no ano de pandemia vira bosque em hospital

Aby Jaine da Cruz Moura
Clodoaldo Lemes de Souza
Eli Rodrigues Frias
Gilson Coelho
Inácio Cândido Poquiviqui
Ivonete Francisca Paulo
Joel Martinez Peixoto
Luis Armando Pereira Patusco
Maria das Dores de Lima
Por ordem alfabética a saudade é nomeada daqueles que partiram no ano em que a pandemia os colocou na linha de frente. Na manhã desta sexta-feira, as lembranças de uma vida juntos, tanto em casa quanto no trabalho, viraram homenagem no Bosque da Saudade, dentro do Hospital Universitário, em Campo Grande.

Familiares e colegas de trabalho acompanharam a nomeação com uma plaquinha das nove árvores recém-plantadas no bosque. A homenagem é parte da comemoração dos 46 anos do Hospital Universitário. "Hoje não é um dia triste, é um dia de saudade e de gratidão por todos os profissionais que dedicaram suas vidas a ajudar as pessoas", resumiu o superintendente do HU, Cláudio Cesar da Silva.
Filha de Maria das Dores de Lima, a emoção tomou conta de Rosilene Ferreira, de 47 anos. A mãe, que já estava aposentada, trabalhou no administrativo do hospital de 1985 até 2004. "Ela era uma pessoa incrível. Dedicou sua vida à UFMS. Essa homenagem significa muito, porque vamos poder sempre ver a árvore com o nome dela", diz.
Maria das Dores tinha 69 anos, morreu de covid em setembro do ano passado. Depois de ficar 60 dias internada, teve falência múltipla dos órgãos por causa da doença. A filha não estava no Brasil, mora na Espanha. "Consegui vê-la por videochamada um dia depois que ela saiu da UTI. Não sei nem explicar o sentimento, estava fora do país e não via minha mãe pessoalmente desde 2012."

Espírita, dona Maria adorava ajudar a todos e tinha planos de montar um projeto social. "Não tem uma pessoa que não gostasse dela", completa a filha.
Técnico de Enfermagem, Gilson Coelho tinha 40 anos, e estava na linha de frente no atendimento à covid. Foi em agosto que ele deu o último adeus à família, que conseguiu vê-lo fora da UTI no Dia dos Pais. Funcionário do hospital desde 2016, ele deixa um casal de filhos, de 8 e 2 aninhos e o hábito de todo ano pegar cartinhas de Natal dos Correios.

"É um momento importante este da homenagem. Apesar da doença, ele foi um herói que estava na linha de frente e gostava de ajudar as pessoas", diz a esposa Juliana Santos Coelho, de 37 anos.
Emocionada, ela conseguiu contar que pelo marido ter passado dificuldades na infância, fazia questão de proporcionar, dentro do que podia, um fim de ano feliz para crianças. "Ele fazia questão de todo ano pegar cartinha de Natal para presentear as crianças carentes".
Luiz Patusco não foi morreu de covid, mas em decorrência de um câncer em setembro de 2020. Médico de 42 anos, o pneumologista estava desde 2005 no HU. "É um momento sensível e importante, ele trabalhava aqui há muitos anos, para a gente que é da família, significa muito", compartilha a esposa, e psicóloga, Luzia Patusco, de 40 anos.
Depois das plaquinhas, a família dos homenageados também soltaram balões brancos por todos os pacientes que morreram vítimas da covid-19.