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Capital

Sem manutenção, homenagens a japoneses são retrato do descaso com a história

Descendente de imigrantes se diz "triste" com a condição dos monumentos importantes para a comunidade japonesa

Por Mylena Fraiha | 28/01/2025 09:57
Sem manutenção, homenagens a japoneses são retrato do descaso com a história
Memorial do Centenário da Imigração Japonesa, localizado no cruzamento das Avenidas Calógeras e Mato Grosso; local está tomado pelo mato (Foto: Marcos Maluf).

Seja pela falta de manutenção ou vandalismo frequente, não é só o monumento na Praça do Rádio Clube que hoje é imagem do descaso com as homenagens à contribuição da comunidade japonesa a Campo Grande. Para a comunidade nipônica da cidade, os símbolos podem ser detalhes na paisagem, mas o menosprezo é como deixar a memória à própria sorte.

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Monumentos que celebram a imigração japonesa em Campo Grande estão em estado de abandono, com sinais de vandalismo e falta de manutenção. O Monumento à Imigração Japonesa e o portal 'tori' apresentam pichações e desgaste, enquanto o Memorial do Centenário está cercado por mato. A comunidade nipônica lamenta a deterioração desses símbolos históricos, que representam a chegada dos primeiros imigrantes japoneses à cidade. A conservação desses monumentos é vista como essencial para preservar a memória e a história da imigração japonesa em Mato Grosso do Sul.

Na semana passada, a reportagem notou que o emblemático Monumento à Imigração Japonesa, localizado na Praça do Rádio Clube, no centro de Campo Grande, estava com janelas quebradas e pintura extremamente desgastada. Isso gerou tristeza em alguns filhos de imigrantes japoneses.

“É triste ver um monumento desse sendo deteriorado pelo tempo. Como está em um espaço público, acredito que é responsabilidade do poder público fazer essas manutenções”, lamenta o atual presidente da Associação Okinawa de Campo Grande, Eduardo Kanashiro.

Sem manutenção, homenagens a japoneses são retrato do descaso com a história
Adornos de ferro tortos e tinta desgastada evidenciam o estado de abandono do monumento à imigração japonesa, localizado na Praça do Rádio Clube (Foto: Juliano Almeida).

Eduardo explica que essa situação é semelhante à do portal vermelho, conhecido pelos japoneses como “tori”, localizado na Rua dos Barbosas, próximo à sede da Associação Okinawa. Construído em 2008 durante as comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, o portal foi instalado com investimentos do empresário Almir Hirokazu Oshiro e se tornou um bem público, mas tem sido, de certa forma, abandonado.

“Como ele está na rua ali, o espaço público ali, eu penso que o poder público deveria dar manutenção. Ele já teve uma revitalização, se eu não me engano, há 2 anos, que não me falha a memória. Mas assim, com o passar do tempo, é preciso ter outra. Já tem pichação ali”, explica Eduardo.

Ontem (27), a reportagem constatou lixo acumulado aos "pés" do portal e pichações em sua estrutura. Apesar de não estar tão deteriorado quanto o monumento da Praça do Rádio Clube, a tinta vermelha do portal apresenta sinais de desgaste em alguns locais.

Sem manutenção, homenagens a japoneses são retrato do descaso com a história
O portal vermelho é conhecido pelos japoneses como “tori”, está localizado na Rua dos Barbosas (Foto: Juliano Almeida).
Sem manutenção, homenagens a japoneses são retrato do descaso com a história
Pichação é encontrada no portal vermelho, conhecido pelos japoneses como “tori”, localizado na Rua dos Barbosas (Foto: Juliano Almeida).

Isso também foi constatado no Memorial do Centenário da Imigração Japonesa, um monumento significativo para a comunidade nipônica da cidade, inaugurado em agosto de 2014. O memorial consiste em uma pedra de mármore com inscrições em japonês, que homenageiam o início do estabelecimento dos imigrantes japoneses em Campo Grande.

O marco está localizado no cruzamento das Avenidas Calógeras e a Avenida Mato Grosso. O ponto foi escolhido por fazer parte da história da comunidade japonesa da cidade, conforme destaca Eduardo. “Aquele monumento foi colocado ali de forma pensada, porque representa a entrada da estrada de ferro e simboliza o ponto de chegada dos primeiros imigrantes. Faz tempo que não passo ali, mas sei que em volta tem um mato bem alto. É preciso de uma manutenção também”.

Como observado na segunda-feira (27) e destacado por Eduardo, o monumento está, de fato, cercado por mato. No entanto, não apresenta sinais graves de desgaste pelo tempo, exceto por uma pichação na parte traseira.

Sem manutenção, homenagens a japoneses são retrato do descaso com a história
Pichações foram encontradas na parte traseira do Memorial do Centenário da Imigração Japonesa, situado na esquina da Avenida Mato Grosso com a Avenida Calógeras (Foto: Marcos Maluf).

“É a nossa história” - Com 116 anos de história, o processo de imigração não marcou apenas a época, como também deixou um legado profundo em Mato Grosso do Sul. O Estado já chegou a abrigar a terceira maior comunidade japonesa do Brasil, ficando atrás somente de São Paulo e Paraná.

Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil pelo porto de Santos (SP), a bordo do navio Kasato Maru, em 18 de junho de 1908. Naquele período, o Brasil e o Japão haviam assinado um acordo permitindo que os japoneses trabalhassem nas plantações de café do estado de São Paulo. Assim, 165 famílias desembarcaram na região.

No entanto, as condições de trabalho precárias desagradaram muitos desses imigrantes, que decidiram se deslocar para Mato Grosso do Sul, então parte do estado de Mato Grosso, para trabalhar na construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Foi em 1914, entretanto, que os imigrantes japoneses começaram a se estabelecer em Campo Grande, onde passaram a trabalhar na produção de alimentos e hortifrutigranjeiros.

"Os primeiros imigrantes de Okinawa chegaram no final da obra da estrada de ferro. Inicialmente, vieram para trabalhar nas plantações de café de São Paulo, pois havia a propaganda de que o café era a árvore que dá dinheiro, mas não foi bem assim. Eles trabalhavam muito e ganhavam muito pouco", explica o descendente de imigrantes japoneses.

Para Eduardo, a conservação dos monumentos também é uma forma de preservar a memória. "É a nossa história, tanto da comunidade japonesa quanto da cidade. Então, acho que é muito importante ter esse respeito pelas colônias e pelas pessoas que vieram e ajudaram a construir a cidade”.

Manutenção – A reportagem entrou em contato com a prefeitura para saber se há previsão de nova intervenção para a revitalização do Monumento à Imigração Japonesa, localizado na Praça do Rádio Clube.

Em resposta, enviada por meio de nota na última sexta-feira (24), a Secretaria-Executiva de Cultura informou que o monumento recebe manutenção e limpeza pela equipe gestora da praça, e que o restauro, que depende de mão de obra especializada, está sendo estudado pela pasta.

A prefeitura também foi questionada na noite de ontem (27) sobre a previsão para a poda do mato ao lado do Memorial do Centenário da Imigração Japonesa, assim como sobre a previsão de pintura e manutenção do portal na Rua dos Barbosas. O espaço segue aberto.

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