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Capital

Vacina contra covid-19 chegou rápido ao SUS, mas a da dengue parece impossível

Infectologista da Fiocruz caracteriza doença e diz "não alimentar esperanças" quanto à rapidez no processo

Cassia Modena | 11/04/2023 11:23
Inclusão de vacina contra dengue no PNI do SUS segue sem previsão (Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil)
Inclusão de vacina contra dengue no PNI do SUS segue sem previsão (Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil)

Enquanto Campo Grande enfrenta mais um início de ano com epidemia de dengue e Mato Grosso do Sul se mantém em alerta para a doença, assim como outros estados brasileiros, surge a pergunta: e a vacina?

Atualmente, são dois os imunizantes que protegem contra casos graves da dengue e possuem aprovação da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) no Brasil. Eles são o Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi Pasteur, e o Qdenga, do laboratório japonês Takeda – este último ainda não disponível no mercado.

A vacina Dengvaxia está licenciada para venda no País desde 2016, mas até então não foi inclusa no PNI (Programa Nacional de Imunização) e adquirida pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Em Campo Grande, ela pode ser encontrada na rede particular. O laboratório Sabin, por exemplo, vende cada dose do imunizante a R$ 266. São necessárias três doses, aplicadas a cada seis meses, para um esquema vacinal completo.

Em comparação aos imunizantes contra a covid-19 criados, testados, autorizados e acessíveis em tempo recorde a todos os públicos, a vacina contra a dengue levou mais tempo para ser desenvolvida e poderá demorar para ser largamente disponibilizada à população. É o que avalia o infectologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e professor do curso de Medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Rivaldo Venâncio, que coordenou grupos de testes no Estado tanto da Dengvaxia quanto da Qdenga.

Vírus diferentes - Ambas doenças virais, a dengue e a covid-19 possuem diferenças que justificam o tempo maior para o desenvolvimento de vacinas contra a doença transmitida pelo Aedes aegypti, de acordo com Rivaldo Venâncio.

O primeiro imunizante contra a dengue começou a ser pesquisado na década de 50 por Albert Sabin, mas não foi adiante. Isso foi antes mesmo de ele fazer história com a criação da vacina contra a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil.

"O fato de termos subtipos da dengue de 1 a 4 reflete dificuldade em fazer a vacina. É preciso desenvolver uma proteção cruzada entre eles. Trabalhar com as variantes, no caso da covid-19, é diferente", começa o infectologista.

Além disso, a covid-19 atinge todo o mundo, ao passo que a dengue incide em regiões. "Essa diferença é brutal. A dengue ocorre em determinada parte do mundo, ao contrário da covid, que pegou todos os países do mundo, dos ricos aos pobres, então a tendência é haver uma corrida pela vacina em todo o mundo e o processo ser acelerado", complementa Venâncio.

Fatores ambientais relacionados à dengue, como a água parada, se mostram de difícil controle (Foto: Henrique Kawaminami)
Fatores ambientais relacionados à dengue, como a água parada, se mostram de difícil controle (Foto: Henrique Kawaminami)

Outro fator na conta dessa relação são as características intrínsecas de cada doença. "O mosquito-palha, vetor da transmissão, é de difícil manejo, podendo transmitir várias outras doenças. Embora a vacina contra a dengue seja excelente para evitar casos graves, é preciso considerar o custo-benefício", acrescenta.

Sobre a esperança de a recentemente aprovada Qdenga seja adotada no PNI, inclusive por ter menos restrições em relação à Dengvaxia, o infectologista pontua não alimentar essa "ilusão".

"Eu não alimento a ilusão de que teremos vacina até o final deste ano. Qualquer nova tecnologia e vacina precisa da aprovação do Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) do SUS. Não é algo que se resolva comprar e pronto, tem que ver o custo-benefício. Vamos investir muito dinheiro na vacina, mas o mosquito vai continuar existindo e as condições ambientais não são satisfatoriamente atacadas. Pode ser 'enxugar gelo', pois ele transmite uma série de outras doenças", finaliza.

Arte: Lennon Almeida
Arte: Lennon Almeida

QDenga - Ao Campo Grande News, a SES (Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul), informou em nota que o Ministério da Saúde não sinalizou aos estados a intenção de adquirir a nova vacina contra a dengue.

Consultada também pela reportagem, a fabricante da Qdenga revelou que a previsão para que o imunizante chegue ao mercado brasileiro é a partir do segundo semestre de 2023.

"A Takeda submeteu o dossiê de preço para a análise da CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) logo após a aprovação da Anvisa. No entanto, este processo leva, em média, três meses. Após a conclusão dessa nova etapa, podemos seguir com a importação do imunizante. Assim, estimamos que até o segundo semestre de 2023 a vacina esteja disponível para a comercialização em clínicas de saúde", diz trecho de nota enviada pela assessoria de imprensa da fabricante.

Sobre futuras tratativas com o Ministério da Saúde, a Takeda adiciona: "Paralelamente, trabalharemos junto ao Ministério da Saúde para a inclusão da vacina no calendário do PNI. Para tanto, a vacina deverá passar pela análise da Conitec".






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