Vacinação em grupos não prioritários diminui estoque nos postos de saúde
A falta de vacinas contra a gripe H1N1 nos postos de saúde de Campo Grande no último dia para a imunização dos grupos prioritários pode ser decorrente, segundo informações adquiridas pela reportagem do Campo Grande News, da vacinação em grupos não prioritários. No posto de saúde do bairro Tiradentes, região leste da Capital, o estoque já acabou e não há previsão para reposição.
A administradora Eliane Schinel, 59 anos, levou a mãe Eneir da Costa Oliveira, 84 anos, para receber a vacina, mas teve a viagem perdida. “Ninguém passa as informações corretamente e a distribuição das senhas não está acontecendo. Está um caos”, criticou Eliane.
Mesma situação enfrentada pela dona de casa Catia Menezes, 45 anos, que foi três vezes até o local nesta sexta-feira (20) em busca da vacina para a filha de 19 anos, doente crônica. “Falaram que não tinha vacina. Não sei o que fazer”, lamentou.
Juliana Pontes, dona de casa de 43 anos, é mãe do pequeno Heitor, quatro anos. Ela foi até o posto do Tiradentes várias vezes durante a semana e amargou espera na fila para receber a informação de que não havia vacinas, mesma informação obtida hoje. “Ouvi dizer que a prefeitura está falando que toda Campo Grande já foi vacinada; isso é mentira. Essa falta de vacinas é porque pessoas que não estavam nos grupos prioritários já tomaram e por isso zerou o estoque”, disse.
Essa conduta, segundo o secretário de Estado de Saúde, Nelson Tavares, é repudiada. Ele critica vacinações contra a gripe suína ocorridas em supermercados e shoppings e ressalta que nessas ocasiões, pessoas que possuem condições financeiras para pagar pela vacinação aproveitaram a possibilidade de ir até esses locais e serem imunizadas.
A vacinação contra influenza na rede pública é destinada a alguns grupos prioritários: crianças de seis meses a cinco anos, gestantes e puérperas até 45 dias após o parto (mulheres em resguardo), idosos, profissionais da saúde, povos indígenas, pessoas portadoras de doenças crônicas e outras doenças que comprometam a imunidade e pessoas privadas de liberdade e funcionários do sistema penitenciário. Para Campo Grande foram encaminhadas 196 mil doses da vacina.
O prazo da vacinação contra a gripe A foi estendido até o fim de novembro para grávidas e 30 de junho para crianças de seis meses a dois anos de idade. O objetivo é alcançar a meta e vacinar 80% da população de risco.
Oficialmente, a campanha de imunização terminaria hoje, mas até o fechamento dessa matéria, informações do Sipni (Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações), do Ministério da Saúde, apontavam que mais de 71,3% da população campo-grandense enquadrada no grupo de risco havia recebido a vacinação.
Sorte – As pessoas que foram até os postos de saúde dos bairros Jockey Club e Guanandi, nesta tarde, deram sorte em encontrar a vacina e serem imunizadas. Foi o caso da funcionária pública Vanusa de Arruda Almeida, 42 anos, que levou a pequena Letícia, de dez meses, para ser vacinada.
As duas foram até o posto de saúde do Jockey Club, pegaram a senha normalmente e aguardaram na fila. O mesmo aconteceu com o aposentado Ramão de Souza, 57 anos, que somente hoje já tinha ido quatro vezes até o posto do Tiradentes. “Vim aqui e tive a sorte de conseguir ser vacinado”, comemorou.
A administração do posto de saúde do Jockey Club informou que chegaram ao local, nesta sexta, 200 doses da vacina. Na UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro Guanandi, a reportagem encontrou diversas pessoas aguardando a vacinação. No local, pela manhã, estoque de 300 vacinas foi disponibilizado, enquanto à tarde, vacinas foram remanejadas do distrito de Anhanduí chegaram.
O casal Aura Dias Ferreira, 71 anos, e Celso da Silva, 68, teve êxito em ser vacinado e saiu feliz do local, assim como Filomena da Silva Oliveira, 63 anos. “Foi a primeira vez que vim no posto tentar tomar a vacina e consegui”, ressaltou Filomena.
Protesto – O policial civil Amarildo Rodrigues está insatisfeito pelo fato de sua categoria não ter sido inserida no grupo de risco. “Eu me considero grupo de risco, pois trabalho diretamente com a comunidade. O mesmo acontece com policiais militares, guardas municipais, agentes de saúde, entre outros”, protestou.
Amarildo foi até a UBS do Guanandi e falou que o fato que o deixa mais triste é que até mesmo os presos receberam a vacina e os policiais não. “Nós geramos impostos, trabalho para o Estado. Acho injusto não termos o direito à vacina. Não é nada contra os presos e nem contra os agentes penitenciários que trabalham diretamente com eles. Trabalhamos diuturnamente com os presos, nas celas e isso não é levado em consideração".
A Prefeitura de Campo Grande informou nesta manhã que, embora a campanha de vacinação contra H1N1 se encerre hoje, aqueles que se enquadram nos grupos prioritários “serão atendidos em qualquer unidade mesmo após o término da campanha”.
Conforme a assessoria de imprensa da prefeitura, a falta de vacinação nos postos se deve ao fato de o governo federal não enviar vacinas e a SES (Secretaria de Estado de Saúde) repassar a conta-gotas ao município as que ainda estão no estoque. Não há vacinas sendo repassadas a grupos que não sejam prioritários, de acordo com a assessoria. Quem determina o grupo é o Ministério da Saúde e a prefeitura segue a ordem, adverte.
* Matéria alterada às 19h51 para acréscimo de informações