Vergonha das vítimas dificulta investigação sobre “Boa Noite, Cinderela”
Quadrilha procura homens de meia idade e geralmente casados para que ocorrências não cheguem à polícia
A vergonha das vítimas em procurar à polícia após cair no golpe do “Boa Noite, Cinderela” é um dos pontos que dificulta as investigações. A informação foi dada pelo delegado Jackson Federico Vale durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (12), após a prisão de duas integrantes da quadrilha especialista neste tipo de crime.
Eliane Ajala, 50 anos e Edilene Cristine Ajala, 26 anos, foram encontradas na última semana no Bairro Jardim Monumento, em Campo Grande. Na ocasião, as duas também foram autuadas em flagrante por tráfico de drogas.
De acordo com o responsável pela investigação, o perfil das vítimas da quadrilha são homens de meia-idade e, geralmente, casados. Justamente para evitar que o crime seja registrado em uma das delegacias ou seja feito um boletim de ocorrência com informações falsas.
“Em um dos casos a vitima maquiou as informações. Disse que a casa tinha sido invadida porque ficou com vergonha. Depois começa a contar como realmente foi. Então é esse perfil que a organização busca para evitar que seja investigado”, pontuou Jackson que afirmou não ser um golpe tão comum em Mato Grosso do Sul.
Sobre a prisão, o delegado ratificou a informação de que houve denúncia anônima e então equipe da Derf (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos e Furtos) fez campana em frente à casa alugada desde o dia 27 de julho e conseguiu abordar Edilene na última quinta-feira (8), quando ela saía da residência.
A mãe da jovem foi encontrada dentro da residência. Ambas optaram por ficar em silencio durante o depoimento. Elas estavam sendo procuradas desde o dia 11 de julho quando Derf divulgou o cartaz com foto das mulheres. Dois homens envolvidos no esquema foram presos em abril. Eles eram os responsáveis pela lavagem do dinheiro tirado das vítimas e pelo apoio logístico.
Ainda de acordo com o delegado, Eliane estava em liberdade condicional por roubo e já chegou a ficar dez anos em regime fechado. Já a filha, tem passagem por tráfico de drogas, crime pelo qual foram autuadas em flagrante na última semana.
O golpe - A dupla é suspeita de aplicar o golpe em homens durante a Expogrande que aconteceu em abril deste ano, em Campo Grande. Após consumirem as bebidas que as mulheres davam, os homens simplesmente “apagavam” e só notavam que foram roubados no dia seguinte.
As investigações apontaram que as vítimas eram dopadas com bebidas “batizadas”. Com os homens sob efeito da droga, as mulheres conseguiam as senhas das contas bancárias e realizavam transferências dos aplicativos instalados nos aparelhos celulares, bem como realizavam compras.
Prisão pela droga – Na amanhã de sábado (dia 10), durante audiência de custódia, o juiz Alexandre Antunes da Silva converteu as prisões em flagrante de mãe e filha por tráfico de drogas em preventiva. De acordo com o advogado Júlio César Reis Furuguem, Eliane estava morando em uma chácara e foi até o imóvel no Jardim Monumento, casa de um conhecido, porque não tinha onde ficar em Campo Grande.
Já Edilene contou que estava no imóvel para buscar um anel com a mãe. “A Edilene trabalha, faz curso de Enfermagem, tem Carteira de Trabalho anotada, está recebendo seguro-desemprego, tem filhos de 3 e 9 anos e disse que esta grávida. No inquérito, não tem ligação nenhuma que ela recebia dinheiro do golpe. Não tem nada nas transações bancárias e as duas testemunhas falam que a mulher era morena, mas a Edilene é branca de olhos verdes”, diz o advogado.
A defesa informa que antes da decretação da prisão preventiva propôs à autoridade policial que fosse feita uma acareação com as testemunhas, mas o procedimento não foi realizado. “E a única filmagem que eles têm é da Edilene indo fazer compras de roupas com a mãe. E ela também comprou um salgado. Mas isso não quer dizer que ela cometeu crime. Na exposição, não tem vídeo dela”, afirma Júlio.
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