Vista como sentença de morte, intubação salvou Alex e deu nova chance a policial
Mais do que nunca, além das mortes, estamos ouvindo que alguém foi intubado. Afinal, o que é intubação?
É com o coração cheio de gratidão que a advogada Daniele Minski, de 34 anos, fala sobre os cinco dias em que o marido esteve intubado no CTI da covid no Hospital da Cassems, em Campo Grande. Novo e sem comorbidades, o policial militar Alex Jhonny da Silva, de 36 anos, está em casa desde ontem à noite, depois de receber a tão esperada alta, que a esposa atribui à intubação.
Daniele concordou de imediato em dar entrevista porque já esteve no lugar das famílias que se desesperam ao ouvir a palavra: intubação. O termo médico que se popularizou na pandemia não significa sentença de morte, apesar de ser visto assim.
"O que me desesperou quando o médico falou que ele seria intubado foi realmente a questão da gente ver e ouvir que quando a pessoa é intubada, ela não volta. Mas a gente precisa mostrar que não, que existe uma luz no fim do túnel", acredita.
Alex começou a ter os sintomas uma semana antes de intubar, no dia 20 de março, um sábado, quando percebeu que estava sem olfato e paladar. Dois dias depois, a esposa passou a ter dores de cabeça e no corpo, mas sem febre. Os dois procuraram por atendimento médico e fizeram o teste da covid, ela o do cotonete e ele do dedo.
Apesar do resultado de Alex ter dado negativo, ele passou a ter febre e sentir muito cansaço. Na quinta-feira, dia 25, eles voltaram ao médico e uma tomografia confirmou que 25% do pulmão do policial estava comprometido. No mesmo dia, saiu o resultado de Daniele, dando negativo para a doença.
De quinta para sexta, o policial passou a noite no hospital, mas teve alta pela manhã, por não haver leito disponível. Com as recomendações de seguir com os cuidados em casa, Daniele comprou toda a medicação, mas viu o marido sentir ainda mais cansaço. Os dois voltaram ao hospital na manhã de sábado e em 1h Alex foi internado.
"O médico me chamou e falou da necessidade de intubação, mas que iria esperar até o final do dia", conta. Enquanto assinava os papéis no hospital, Daniele soube que uma vaga no CTI havia sido aberta para o marido e pediu para vê-lo por saber que a partir dali ele ficaria sem celular.
"Quando eu entrei na sala ele estava sentado com falta de ar e no oxigênio. Ao me ver, começou a chorar e falava que seria intubado. Eu disse que eu sabia, e que era para ele ficar calmo, que tudo daria certo. Mas até então, eu não sabia que ele seria intubado naquele momento", recorda.
Com oxigênio, o marido tentou passar detalhes de senhas e contas bancárias e dizer à esposa para não se preocupar com velório e enterro porque a Polícia Militar seria a responsável. Em seguida, enfermeiras trouxeram a notícia de que precisariam preparar o paciente e que o médico queria falar com a esposa.
"Foi quando ele falou que o Alex seria intubado naquele momento, porque estava grave. Meu chão se abriu. É uma sensação horrível você não saber se aquele é o último contato que você tem com o seu marido", descreve.
Desesperada, ela passou a informar os amigos e familiares sobre o procedimento e em contrapartida, viu crescer uma corrente de oração e de muito carinho.
Diferente de ver só nos noticiários, a intubação era a realidade que o marido e toda a família enfrentavam naquele momento. "O médico foi bem claro ao me dizer que o estado dele era grave, que o pulmão estava bem comprometido e que ele foi intubado para preservar o corpo e para ajudar no tratamento, porque sozinho ele não conseguia mais respirar e o oxigênio no organismo era muito pouco", pontua.
Levada pelas informações que chegavam de outras pessoas, de que geralmente o paciente ficava de sete a 10 dias intubado até começar o "desmame", para surpresa de Daniele, Alex foi extubado no dia 31 de março, cinco dias depois. "Por um milagre ele reagiu muito bem aos medicamentos, extubou e rápido voltou à consciência", conta. No dia seguinte, a esposa já o viu por uma chamada de vídeo.
"Ele estava meio zumbizado por causa dos sedativos, mas falou que estava tudo bem e que me amava. Eu disse que também o amava e que esperava ele pra vir embora".
Daniele viveu momentos de angústia e também de muita força durante os cinco dias de intubação do marido. Apesar do choque e do susto, quando ia dar notícias do boletim do policial aos familiares e amigos, nunca se sentia só. "Eu até comentei que quando eu precisava dar notícias, era como se eu estivesse com uma centena de pessoas atrás de mim, e que eu precisava ser forte para seguir", detalha.
Ao mesmo tempo em que se preparava para o melhor, a advogada diz que sabia que o pior também era uma possibilidade diante da gravidade da doença. "Quando fala intubação é uma palavra muito difícil nos dias de hoje, porque a gente não sabe se a pessoa vai voltar, mas eu sabia que ele estava bem cuidado", compartilha Daniele.
Intubação - Mais do que nunca, além das notícias de mortes, se ouve muito que "fulano foi intubado". A frase provoca angústia, mas não é sentença de morte. "O tubo não é o problema, a gravidade da doença que é. Tem pessoa que a covid acomete quase 100% do pulmão", exemplifica o médico Luiz Gustavo Orlandi de Souza.
Anestesista, além de atuar na assistência médica, Luiz Gustavo também é diretor da Core Help, empresa voltada para área de treinamento de profissionais de saúde que recentemente atualizou 30 médicos da linha de frente para intubação em UPA's da Capital.
Luiz Gustavo explica didaticamente que intubação é uma medida terapêutica utilizada quando o grau de acometimento do pulmão do paciente é muito agressivo. "A covid é uma doença que afeta os pulmões, e dependendo do grau do acometimento, se ela for muito agressiva, o pulmão não consegue fazer o papel dele, que é a troca gasosa. Então, a pessoa começa a sentir falta de ar, e tem hora que começa a fadigar e não aguentar mais, quando chamamos de insuficiência respiratória".
O que é feito então, segundo o médico, é "ventilar" o paciente por aparelho de ventilação artificial que é ligado ao pulmão através do tubo. "No caso da covid, o paciente é sedado, depois intubado e conectado e um ventilador. Este tubo entra dentro da traqueia do paciente", detalha o médico.
Depois de passado o período crítico, quando os médicos que acompanham por exames o paciente percebem melhora, a sedação começa a ser retirada aos poucos. "E com ele acordando, o tubo é retirado".
Para a família do policial Alex Jhonny, foi o procedimento que o salvou. "Meu marido foi intubado logo depois que chegou no pronto socorro e eu tenho certeza que foi isso que salvou a vida dele, por que não ficaram esperando ele piorar muito para intubar".
Na noite dessa segunda-feira (5), Alex foi recebido com festa na porta de fora do hospital ao ter alta.