Yago e a volta por cima: ele sobrevive forte e prova que morte não é o fim
Com 54 centímetros e 4,2 quilos, bebê guerreiro é caso raro no mundo ao ser gerado em ventre de mãe com morte cerebral.
Mesmo com os pulmões ainda em formação, ele chorou forte quando nasceu. Estava na 27ª semana e veio ao mundo por parto cesárea, feito na mãe com morte cerebral. O nascimento foi uma vitória; a sobrevivência uma luta intensa durante os 7 meses e 21 dias em que esteve internado na Santa Casa de Campo Grande: ele deu a volta por cima e é um dos personagens principais deste ano de 2017.
Yago Souza Sodré de Noronha nasceu por volta das 11h da sexta-feira de 31 de março. Era muito pequenino com seus 34 centímetros e pouco mais de 1 quilo.
Caso raro, 35º no mundo inteiro, terceiro do Brasil e inédito em Mato Grosso do Sul - , o bebê foi gerado durante dois meses no útero de Renata Souza Sodré, que sofreu um AVC hemorrágico aos 22 anos.
Renata deu entrada no hospital no dia 27 de janeiro e teve morte cerebral confirmada três dias depois, já entrando na 17ª semana de gestação. Numa arriscada decisão da equipe médica e da família, Renata foi mantida viva para que o primeiro filho tivesse a chance de vir ao mundo.
“Em 2017 aprendi a crer no impossível. Meu filho é um milagre”, descreve Eduardo de Noronha, 25.
Ele visitou a esposa grávida todos os dias. Acariciava a barriga dela e sentia os fortes chutes do bebê. Depois que nasceu, pelo vidro da incubadora, o pai tentava passar seu afeto ao pequeno, sem perder um só dia de visita. Foram cinco meses assim até conseguir segurar Yago no colo pela primeira vez.
Hoje, a rotina segue com seus melhores momentos do dia. "Poder acordar e dar um beijo antes de ir pro trabalho e depois quando eu chego, sentir o cheirinho dele", define o pai.
Mas ainda é muito tênue a linha entre a dor da perda e felicidade do nascimento.
A mãe de Renata, Adriana de Souza Ávalo, 44, numa espécie de confissão, disse que só viu o neto depois que a filha foi enterrada. "O nascimento dele representava a morte dela. Até pensei em pedir para não desligarem os aparelhos porque eu tinha esperança que ela fosse acordar a qualquer momento", lembra.
Campo de batalha - Ainda tão pequeno, o guerreirinho - como foi apelidado pela equipe médica - já enfrentou desafios enormes. O primeiro foi um problema respiratório assim que nasceu. Teve que ser entubado nas primeiras horas neste mundo. Pegou três infecções e fez cirurgias de hérnia, no olho e no coração.
Recebeu alta em 21 de novembro, quando atingiu 3,5 quilos e 51 centímetros. Foi uma festa!
Para sair do hospital, Yago precisou ganhar peso e aprender a sugar sozinho. Conseguiu!
Tanto tempo observando somente paredes de um hospital, hoje o bebê é atento a tudo que o rodeia. Está grandinho com seus 54 centímetros e 4,2 quilos, e cheio de personalidade.
"Parece com a mãe, principalmente no gênio forte", diz a avó, enquanto tentava distrair o neto, empenhado em alcançar a máquina fotográfica que o registrava.
Oito dias após a alta, deu o maior susto na família quando se engasgou com medicamento. Motivo? Ficou bravo porque achou que era o "mamá" e se recusou a engolir. Mais uma batalhinha para a conta.
E que venha o próximo desafio: enfrentar uma colher de papinha. Alguma dúvida de que nosso guerreirinho já está se preparando?
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