Em missa campal, mães de Breno e Leonardo falam de dor e esperança

Por fora: praça, árvores, vozes, som de berimbau, adultos, crianças, cachorros, quiosques, risadas. Por dentro (até onde os olhos permitiam ser revelado): interação do vazio da falta com novos sentidos, suscitados pela necessidade da mudança.
Nos limites das palavras, esse era o antagonismo vivenciado por duas mulheres em um recorte do tempo e do espaço: manhã deste domingo (20) e Bosque da Paz, no Carandá Bosque, em Campo Grande.
Lilian Silvestrini e Ângela Fernandes são mães de Breno Luigi Silvestrini de Araújo e de Leonardo Batista Fernandes, assassinados em 30 de agosto de 2012. Eles tinham, na ocasião, 18 e 19 anos, respectivamente.
Numa sintonia entre palavras, olhar consternado, sorriso triste, elas mostraram que a passagem dos anos é muito menor que a peso da ausência. “A gente aprende a conviver com a dor, mas não esquece. Ele era meu único filho”, disse Lilian, com calma e tristeza na voz.
Ângela partilha do mesmo sentimento e, assim como Lilian, torna equivocada aquela ideia de que o tempo tudo apaga. “O vazio fica”, reconhece. “Mas também fica o legado dele, o legado da luta para que as pessoas sejam melhores”, completou.
É esse legado o motor das ações da organização criada por Lilian e Ângela, a “Mães da Fronteira”. São duas frentes de ações e uma utopia.
A organização busca de modo associado sensibilizar as pessoas quanto ao cuidado, respeito e amor aos outros e pressionar os governantes na criação de políticas públicas amplas (não restritas às ações policiais) para amenizar a violência.
As duas frentes de ações têm o mesmo propósito, uma utopia: construção de uma sociedade sem assassinatos, sem violência, com pessoas que se importam umas com as outras. Lilian e Ângela sonham, mas sem tirar os pés da realidade.
“Somos, como muitas outras pessoas, operárias dessas mudanças”, afirmou Ângela, buscando demostrar que o trabalho é árduo, constante, como de operários, mas necessário para que algo diferente do que predomina seja edificado.

O caso – Breno e Leonardo, que eram amigos de infância, foram encontrados mortos no dia 30 de agosto de 2012 em Campo Grande. Eles foram sequestrados, assassinados e deixados em na entrada de uma galeria de água pluvial, no anel viário entre as saídas de Aquidauana e Rochedo.
O veículo em que estavam, uma Pajero, foi encontrado em Corumbá pelo DOF (Departamento de Operações da Fronteira).