Crianças de abrigos são usadas para dar volume a protesto e mãe se revolta
Outras crianças do abrigo foram levadas; uma delas segurava cartaz com ofensa a vereador, inclusive
Mãe de duas crianças e um adolescente que vivem no abrigo municipal de Água Clara ficou revoltada ao ver dois dos filhos sendo expostos num protesto feito na noite de ontem (13) na Câmara Municipal da cidade.
Apesar de ter perdido a guarda dos 3 filhos, por motivo não esclarecido, ela ficou indignada com a situação, porque eles foram retirados do convívio da família, estão sob tutela do estado e deveria ser preservados. "Absurdo. Tinha policial, estava um clima de violência. Eles poderiam ter se machucado", ela diz a mulher.
Para piorar, a imagem dos irmãos, que têm 11 e 13 anos, além do rosto de outros crianças retiradas da guarda dos pais, foram expostos no vídeo que transmitia nas redes sociais a sessão na Casa de Leis, o que é proibido pelo ECA (Estatuto da Criança e Adolescente). A mãe não concordou e usou o perfil no Facebook para fazer comentários reclamando.
Na sequência, ela diz que recebeu uma ligação da coordenadora do abrigo, Dayana Cruz. "Ela pediu desculpas e falou que a intenção não era machucar as crianças". O Campo Grande News também fez contato com a responsável, mas não conseguiu retorno até a publicação desta matéria.
A secretária municipal de Assistência Social, Dayane Peres, estava junto no protesto. A reportagem ligou, mas ela informou que a assessoria de imprensa da Prefeitura de Água Clara iria enviar nota de posicionamento.
Briga e agressão à coordenadora - O que motivou a manifestação foram brigas, inclusive entre o secretário municipal de saúde e um vereador de Água Clara, que aconteceram na Festa das Nações, um evento tradicional realizado no município último fim de semana.
O protesto na Câmara foi feito contra o parlamentar envolvido, Marcelo Batista de Araújo (PSD), que além de brigar com o secretário Alex Oliveira, participou de uma outra confusão. Nesse segundo episódio, a coordenadora do abrigo Dayana da Cruz tentava defender o marido das agressões e acabou levando um soco do vereador no rosto.
Cartaz segurado por uma menina abrigada repudia a agressão à servidora e a outras mulheres que acabaram se envolvendo. "Covarde/Homem de verdade não bate em mulher/Vagabundo!", diz.
Como já explicou Marcelo, tudo começou porque o filho adolescente de 17 anos trocou provocações com o secretário de Saúde durante a festa.
O secretário rebateu. “Não houve bate-boca em momento algum ou algo do tipo com ele e o filho. Ou qualquer outra pessoa. Me agrediram pelas costas. Levei sete pontos na cabeça e estou com o rosto e braço machucados. Minha cunhada levou um soco na boca, está no hospital para avaliar a lesão. Além da covardia, estão inventando histórias”, falou ao Campo Grande News.
No vídeo abaixo, é possível ver várias pessoas se juntando à primeira briga:
"Livre e espontânea vontade" - Em nota, a Prefeitura de Água Clara se manifestou sobre a participação das crianças e adolescentes no protesto, se referindo a todas como adolescentes, e afirmando que houve consentimento por parte dos abrigados.
"A manifestação realizada nesta segunda-feira (13) ocorreu por conta do relato da agressão sofrida pela servidora, Dayana da Cruz, diretora do Serviço de Acolhimento Institucional. As adolescentes presentes na manifestação foram por livre e espontânea vontade, já que possuem um vínculo com a diretora da instituição, que relata ter sido agredida covardemente pelo vereador Marcelinho 'Carvoeiro', presente na sessão. As adolescentes fizeram cartazes de apoio e foram acompanhadas por cuidadores da instituição", diz a primeira parte da nota.
O inciso VII do artigo 92 do Eca (Estatuto da Criança e do Adolescente) é citado para justificar a presença dos abrigados, por validar “participação na vida da comunidade local”.
"Os adolescentes que são atendidos pela instituição estão em um local que busca, e que também tem como dever, inseri-los na convivência em comunidade, então são adolescentes que participam de feiras e eventos públicos, sempre acompanhados. Assim como no caso em questão, em que manifestaram seu descontentamento sobre a situação ocorrida. Também é importante ressaltar que elas, além de acompanhadas, estavam em um ambiente seguro (Câmara Municipal) e em horário apropriado", finalizou.
Denúncia - Enfermeira e assistente social que atua no CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) de Água Clara e atende uma das meninas que aparece no protesto, Maria Regina Xavier de Lima também expressa revolta com a decisão de levar os abrigados à Câmara.
"Muitos já vêm de uma situação de violência dentro de casa, por isso são tirados da família abrigados. Isso é submeter a uma outra situação de violência e a uma exposição que não pode", fala. A enfermeira afirmou ter feito denúncia ao Conselho Tutelar sobre o caso.
Outro que informou ter feito denúncia ao órgão de proteção à criança e adolescente, foi o vereador Alfredo Alexandrino (PSD). "Estou aguardando posicionamento rígido dele", falou.
A reportagem ligou para o Conselho Tutelar e questionou o que já foi feito em resposta às denúncias. Conselheira que atendeu o telefone e se identificou apenas como Aline, afirmou que a coordenadora do Conselho está de folga hoje (14) e só poderá se manifestar sobre o caso amanhã (15).
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