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Interior

"Estava dentro da minha área", diz produtor que incendiou casa de indígenas

Produtor rural admitiu ter ateado fogo no local em um momento de fúria

Adriano Fernandes e Helio de Freitas | 06/09/2021 23:36
Barraco que foi destruído pelo fogo. (Foto: Povo Guarani Kaiowá)
Barraco que foi destruído pelo fogo. (Foto: Povo Guarani Kaiowá)

Dono de uma propriedade vizinha da reserva indígena de Dourados, o produtor rural Giovanni Jolando, admitiu ter incendiado a casa de uma família da etnia Guarani Kaiowá, nesta segunda-feira (06) na região. O incêndio foi denunciado ao CIMI (Conselho Indigenista Missionário) pelos indígenas, que até então atribuíam o ataque aos seguranças dos fazendeiros.

Ao Campo Grande News, no entanto, o produtor alegou que a edificação foi construída na área em que ele é arrendatário, e não nos limites do território tekoha Avae’te, conforme informado pelos indígenas. O fazendeiro também afirma que ataques de indígenas ao produtores também são frequentes na região. "Eu fui lá e coloquei fogo naquele barraco, foi eu que coloquei, assumo minha responsabilidade, mas ele (barraco) estava dentro da área que eu sou arrendatário", admite.

Em vídeo gravado pelos moradores, é possível ver o momento em que o produtor caminha do automóvel branco até a casa coberta de sapé, material altamente inflamável. Enquanto isso, os homens da caminhonete preta dão cobertura. No local vivia uma família com seus três filhos. Outras duas residências teriam sido incendiadas nesta última semana, conforme o CIMI. Confira o vídeo aqui.

O produtor admite ter ateado fogo no local em um momento de fúria, depois que os indígenas, supostamente teriam incendiado a sua plantação de milho e a de um vizinho. Ainda segundo o produtor os indígenas teriam confrontado policiais militares no local, nesta segunda-feira (06). "Eu já denunciei, já fiz boletim de ocorrência. Na hora em que eu sou atacado, infelizmente eu tenho que reagir. Aquele barraco eu queimei dentro da minha área", completa.

O produtor também nega a participação dos seus seguranças na ação. "Eles foram lá para me proteger, até pediram para eu não fazer, mas eu fiz. Foram perto de mim para me proteger e pedindo para eu parar", comenta Giovanni.

Impasse - O tekoha Avae’te é uma das retomadas (acampamentos) que ficam próximas aos atuais limites da reserva de Dourados, área reivindicada pelos indígenas como parte de seu território tradicional. Do outro lado da disputa estão os sitiantes, que inclusive detêm das escrituras das chácaras enquanto o Governo Federal não chega a um consenso sobre os limites dos territórios indígenas da região.

As retomadas indígenas em Dourados, vivem um contexto histórico de violência, marcado por confrontos e derramamento de sangue dos dois lados.

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