HU da UFGD faz a primeira captação de córneas com equipe própria
Procedimento feito pela primeira vez por profissionais do próprio hospital ocorreu terça-feira em paciente de 61 anos
Pela primeira vez, uma equipe formada exclusivamente por profissionais do HU (Hospital Universitário) da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) realizou uma captação de córneas. De acordo com a assessoria do hospital, o procedimento foi efetuado terça-feira (7), em um paciente de 61 anos que morreu de pancreatite.
Conforme o hospital, até então em Mato Grosso do Sul apenas profissionais de Campo Grande realizavam esse tipo de captação, sendo que a implantação do serviço de forma autossuficiente no HU estabelece Dourados como referência em retirada de córneas na macrorregião.
“A possibilidade de realizar o procedimento com equipe própria, agiliza o processo e permite que mais captações sejam efetivadas na região, com maior frequência, auxiliando o abastecimento do Banco de Olhos e diminuindo a fila de espera por transplantes de córneas no Estado”, afirma a médica intensivista Mirna Matsui, presidente da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante do HU.
Segundo ela, a comissão, criada em 2012, já realizou captações anteriormente, mas com a participação de profissionais da Capital, especializados na retirada de córneas. No entanto, há meses vinha se preparando para iniciar a atividade, pois conta com o treinamento em enucleação ocular – nome técnico do procedimento.
Por ser um tecido, a córnea, diferentemente dos órgãos, pode ser captada até seis horas após o óbito, não havendo necessidade do diagnóstico de morte encefálica, como no caso de captação de múltiplos órgãos.
A captação – O procedimento é considerado simples e dura em média 40 minutos. No HU de Dourados, todo óbito registrado é imediatamente informado à comissão intra-hospitalar para que a equipe de captação possa trabalhar o mais rápido possível na triagem das informações sobre o paciente, verificando se ele se encaixa como potencial doador.
A enfermeira intensivista e mestre em educação Cristiane de Sá Dan, capacitada em enucleação ocular, informou que é necessário o paciente ter entre dois e 80 anos de idade e não apresentar enfermidades infectocontagiosas transmissíveis por meio do transplante.
Se o paciente é considerado potencial doador, membros da comissão fazem o contato com a família ou responsáveis, que precisam consentir a doação por escrito, na presença de duas testemunhas. Somente assim o paciente torna-se doador efetivo. É feita então a retirada das córneas, que são transportadas até Campo Grande para serem avaliadas e preservadas pelo Banco de Olhos da Santa Casa e destinadas a um receptor, conforme a lista de espera.
Palestras – De acordo com a assessoria, o HU vai iniciar em breve um ciclo de palestras educativas em escolas de Dourados, para incentivar o diálogo sobre a doação de córneas entre estudantes e familiares.
Segundo os profissionais do hospital douradense, um dos maiores entraves à doação de órgãos e tecidos é o consentimento familiar, pois em muitos casos os parentes não têm conhecimento sobre as intenções do paciente nesse sentido. “Um dos trabalhos da comissão é justamente a conscientização da comunidade para que as famílias conversem sobre a doação, manifestando-se em vida sobre seu desejo de doar”, diz a enfermeira Cristiane.
Fila – Em Mato Grosso do Sul, conforme relatório da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), de janeiro a março de 2016 foram feitas 57 cirurgias para transplante de córneas e, em 2015, foram 147. Até março, a lista de espera continha 16 pacientes ativos no aguardo de córneas.