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Interior

IBGE começa a contar moradores de área indígena mais populosa do Brasil

Inicialmente, três recenseadores acompanhados de guias estão trabalhando nas aldeias Bororó e Jaguapiru

Helio de Freitas, de Dourados | 12/08/2022 14:03
Observado pela supervisora, recenseador do IBGE conversa com moradora da Aldeia Bororó (Foto: Divulgação)
Observado pela supervisora, recenseador do IBGE conversa com moradora da Aldeia Bororó (Foto: Divulgação)

O Censo Demográfico 2022 chegou à terra indígena mais populosa do País, a Reserva de Dourados, criada em 3 de setembro de 1917 pelo então governador de Mato Grosso, general Caetano Manuel de Faria Albuquerque.

Três recenseadores começaram nesta semana a percorrer as aldeias Bororó e Jaguapiru para contar quantas pessoas das etnias terena e guarani-kaiowá moram na área, encravada entre os municípios de Dourados e Itaporã. O censo é feito também no acampamento indígena Ñu Porã, ao lado da BR-163, na região sul do município.

Oficialmente a Reserva de Dourados tem 3.600 hectares, mas os indígenas reivindicam perícia na área, pois acusam produtores rurais de terem se apropriado de parte das terras. Atualmente, centenas de guarani-kaiowá estão acampados no entorno, em luta pela ampliação.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dedicou cuidado especial para o censo nas terras indígenas. Além de processo seletivo específico para contratar recenseadores interessados em trabalhar nas aldeias, as pesquisas de campo só começaram após reunião com lideranças indígenas e são acompanhadas por guias, que atuam também como intérpretes.

“Começamos com três recenseadores lá, mas temos expectativa de pelo menos dobrar esse número se necessário. Os recenseadores que já estão trabalhando não são indígenas, mas não existe nenhuma restrição quanto à etnia”, explicou Leandro Cabral dos Santos, coordenador da coleta do censo em Dourados.

Segundo Leandro, além do cuidado na seleção dos recenseadores para atuar nas aldeias e trabalho conjunto com lideranças da comunidade, a prioridade também é cuidar do protocolo de saúde.

Todos os recenseadores precisam estar com a vacinação em dia, incluindo covid-19, gripe e febre amarela, o uso de máscara é obrigatório durante todo o período de trabalho dentro das aldeias e precisam também fazer teste de covid.

O coordenador afirma que nos primeiros dias de trabalho nas aldeias, a resistência da comunidade ao censo tem sido mínima. “Como a gente faz esse contato com as lideranças e estamos sempre acompanhados de um guia, os moradores costumam nos receber bem e respondem com tranquilidade”, disse Leandro ao Campo Grande News.

Assim como ocorre entre a população “não indígena”, os recenseadores aplicam nas aldeias dois tipos de questionários, o básico com menos perguntas e o de amostra, mais detalhado. “Assim como os bairros, as aldeias foram divididas em setores censitários. Dentro de cada setor censitário existe um percentual de questionários de amostra”, explicou o coordenador.

Equipes de Dourados e Itaporã com liderança da Bororó (Foto: Divulgação)
Equipes de Dourados e Itaporã com liderança da Bororó (Foto: Divulgação)

Definir prioridades – Para Leomar Mariano da Silva, diretor da Coordenadoria Especial de Assuntos Indígenas da prefeitura, o censo demográfico da área indígena vai ajudar a definir projetos e ações para a comunidade.

“Temos condições de fazer projetos mais atuais, conforme as especificidades da nossa população, para atender demandas na saúde, educação, saneamento. É muito importante saber qual a população da nossa aldeia”, afirmou o coordenador, que é guarani e mora na reserva.

Segundo Leomar Mariano, estatística da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) aponta população de 16.500 moradores nas duas aldeias. “Aqui são cerca de 500 nascidos por ano, então logo chegaremos a 20 mil habitantes”.

Começou em Sidrolândia – Em Mato Grosso do Sul, o lançamento oficial da coleta do censo indígena ocorreu quarta-feira (10) na Aldeia Lagoinha, no Território Indígena Buriti, em Sidrolândia.

Segundo o IBGE, foram identificadas 189 localidades indígenas em MS, sendo 56 terras indígenas, e 111 agrupamentos e 22 localidades com população indígena dispersa.

“A partir do censo 2022, será possível conhecer as mudanças na demografia dos povos indígenas, além de trazer dados mais detalhados para as terras indígenas do Brasil. A pesquisa também trará visibilidade aos povos que vivem dentro e fora das terras indígenas”, afirmou a coordenadora do Censo em Áreas Indígenas e Quilombolas Marta Antunes.

Moradores da Aldeia Lagoinha, em Sidrolândia, são entrevistados por recenseadora (Foto: Divulgação)
Moradores da Aldeia Lagoinha, em Sidrolândia, são entrevistados por recenseadora (Foto: Divulgação)

Hoje, o Estado tem aldeias indígenas distribuídas por 29 localidades. Segundo a Sesai/MS (Secretaria Especial de Saúde Indígena), a população de índios soma 80.459 habitantes em Mato Grosso do Sul, presentes em 28 municípios.

As comunidades são formadas por oito etnias: guarani, kaiowá, terena, kadwéu, kinikinau, atikun, ofaié e guató, distribuídas por Aquidauana, Anastácio, Aral Moreira, Amambai, Antônio João, Bela Vista, Brasilândia, Caarapó, Campo Grande, Coronel Sapucaia, Corumbá, Dois Irmãos do Buriti, Douradina, Dourados, Eldorado, Japorã, Juti, Laguna Carapã, Maracaju, Miranda, Nioaque, Paranhos, Ponta Porã, Porto Murtinho, Rochedo, Sidrolândia, Sete Quedas e Tacuru.

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