Mais duas fazendas são invadidas por índios na fronteira com o Paraguai
Propriedades em Aral Moreira foram ocupadas na madrugada de hoje; Cimi diz que invasões são resposta a decisões de juiz federal
Mais duas fazendas localizadas na faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai foram invadidas por índios guarani-kaiowá na madrugada desta quarta-feira. As propriedades Três Poderes e Água Branca, localizadas na região conhecida como “Tagi”, próximo à MS-386, entre Amambai e Ponta Porã, foram ocupadas durante a madrugada por índios do acampamento Guaivyry.
É a terceira ocupação ocorrida naquela região nesta semana. Na segunda-feira, índios do acampamento Kurusu Ambá voltaram a invadir a fazenda Madama, no município de Coronel Sapucaia.
O Campo Grande News apurou que hoje de manhã, representantes da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) se reuniram com fazendeiros da região, no Sindicato Rural de Amambai, para discutir a retomada das invasões e para orientar os produtores rurais sobre providências legais que podem ser adotadas.
O diretor do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), tenente-coronel Ary Carlos Barbosa, participou do encontro e logo em seguida seguiu para Campo Grande, para passar um relatório ao governo do Estado sobre a situação na região de Amambai, Coronel Sapucaia e Aral Moreira.
Retaliação – De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), as ocupações foram retomadas em resposta às recentes decisões do juiz federal Fábio Kaiut Nunes, da 1ª Vara da Justiça Federal em Dourados, principalmente a que negou o pedido do MPF (Ministério Público Federal) para que o dono da Gaspem Segurança, Aurelino Arce, fosse condenado a indenizar os índios em R$ 480 mil por danos morais coletivos.
O MPF acusa a Gaspem de ataques a acampamentos indígenas, patrocinada por fazendeiros. Um desses ataques, ocorrido em 2011, resultou no desaparecimento do cacique Nízio Gomes. A Gaspem foi fechada em janeiro de 2014, por determinação da Justiça. Arce cumpre prisão domiciliar pela morte de Nízio.
Demarcação paralisada - Ainda de acordo com o Cimi, outro motivo apontado pelos índios é a paralisação dos procedimentos de demarcação. O órgão ligado à igreja católica acusa o governo brasileiro de infringir, desde 2007, o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) pactuado entre com o Ministério Público Federal (MPF) para as demarcações.
O Cimi informou em nota divulgada em seu site que a entrada dos índios nas duas fazendas foi pacífica. Entretanto, segundo o site A Gazeta News, de Amambai, funcionários das propriedades afirmam que os invasores promoveram quebra-quebra nas fazendas e ameaçaram colocar fogo nas casas.
Conforme denúncia registrada na Polícia Civil, os índios estariam em poder de 800 toneladas de adubos, maquinários, equipamentos agrícolas, bois, cavalos e porcos, além dos pertences dos funcionários.