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Interior

“Miami” do sul-mato-grossense corre risco de falir com 5 mil empresas fechadas

Pedro Juan Caballero está parada; milhares dos trabalhadores já foram demitidos e tem loja que já decidiu fechar em definitivo

Helio de Freitas, de Dourados | 19/05/2020 09:14
Soldados paraguaios vigiam acesso entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã; fronteira está fechada há 60 dias (Foto: Marciano Candia)
Soldados paraguaios vigiam acesso entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã; fronteira está fechada há 60 dias (Foto: Marciano Candia)

A pandemia do novo coronavírus aliada à disparada do dólar no mercado brasileiro ameaça a sobrevivência de pelo menos cinco mil empresas de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha de Ponta Porã (MS), a 323 km de Campo Grande.

A “Miami” sul-americana para milhares de sul-mato-grossenses corre risco de falência em larga escala se o fechamento da fronteira e a proliferação de covid-19 persistirem por muito tempo.

A “quarentena inteligente” adotada pelo governo de Mario Abdo Benítez prevê a reabertura de pequenas lojas no dia 25 deste mês, mas os grandes shoppings de importados seguem sem previsão de quando poderão reabrir as portas.

E pouco adiantaria voltar a funcionar com as fronteiras fechadas, já que o setor de importados dependente essencialmente dos turistas brasileiros. Ontem (18), o presidente paraguaio disse que escolas e fronteiras serão as últimas a serem abertas.

Desemprego - Como efeito dominó da crise do vírus, o desemprego cresce todos os dias em Pedro Juan Caballero. Dos 40 mil trabalhadores formais e informais que dependem diretamente dos turistas brasileiros, boa parte já foi demitida, segundo projeções de comerciantes ouvidos pelo Campo Grande News. O número oficial é desconhecido.

Na semana passada circularam boatos de que o Shopping China, maior loja de importados da América Latina, não abriria mais em 2020. Depois os rumores foram que de o fechamento seria para sempre. Só no Shopping China, são pelo menos três mil trabalhadores que tiveram o contrato de trabalho encerrado.

Em conversa com o jornalista paraguaio Candido Figueredo Ruiz, baseado em Pedro Juan Caballero, o presidente do grupo Cogorno – dono do Shopping China e do Planet Outlet – disse que as lojas vão continuar fechadas enquanto durar a pandemia, mas não confirmou fechamento em definitivo. Felipe Cogorno Alvarez não projetou data para a reabertura, pois o setor de importados depende da fronteira aberta.

Para justificar as demissões, Cogorno Alvarez disse ao jornal ABC Color que 99% dos clientes do Shopping China são do Brasil, atualmente a nação com a maior infecção do vírus na América Latina. “Vai levar tempo para voltar ao que era antes. No momento o mais importante é salvar vidas”, afirmou o empresário.

Dólar – O presidente da Câmara de Comércio de Pedro Juan Caballero, Victor Barreto, disse ao Campo Grande News que a previsão é reabertura de lojas acima de 800 metros quadrados apenas em junho, mas para os shoppings não há data definida. Mesmo se reabrir, segundo ele, o dólar perto dos 6 reais no Brasil, inviabiliza completamente o comércio da cidade. “Muitas coisas não compensa mais para o brasileiro vir aqui comprar. Esperamos que o contágio diminua, que achem uma cura”.

Victor Barreto disse que atualmente apenas mercados, farmácias, serviços de saúde e outros setores considerados essenciais estão funcionando em Pedro Juan Caballero.

“Só no centro, entre pequenas, médias e grandes, são pelo menos 500 lojas fechadas. Contando as lojas dos bairros, chega a cinco mil fechadas. Só lojas de alimentos, farmácias e alguns prestadores de serviço estão atendendo”, afirma o dirigente comercial. “Os 600 camelôs e os 200 vendedores independentes cadastrados estão todos parados”.

Barreto estima de 35 mil a 40 mil pessoas que dependem direta e indiretamente do turismo comercial em Pedro Juan Caballero. “Estamos esperando a reabertura das lojas com menos de 800 metros quadrados no dia 25 de maio, como estabelece o decreto presidencial, e vamos de trabalhar com o mercado local, pelo menos para pagar os custos fixos. Boa porcentagem dos comerciantes não vai mais operar ou vai mudar de ramo”, avaliou Victor Barreto.

No início deste mês, comerciantes paraguaios tentaram convencer o governo do país vizinho a instalar acessos com barreiras sanitárias para permitir a entrada de turistas brasileiros, mas com a explosão dos casos de covid-19 no Brasil, o presidente Mario Abdo Benítez descartou o pedido e mandou aumentar o efetivo de militares na fronteira entre as duas cidades gêmeas. Agora, esperam socorro financeiro do governo para tentar sobreviver durante a pandemia.

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