Ministra é recebida com reza e indígenas dão prazo para definição de demarcações
Guarani Kaiowa reivindicam agilidade sob risco de "despejo de fazendeiros" em 15 dias
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, chegou esta tarde em Caarapó, para participar da Aty Guasu, a grande assembleia indígena com membros da comunidade Guarani Kaiowa. Logo na chegada ao local, com a comitiva, ela foi acolhida por mulheres e seguiram para a casa de reza já entoando orações.
Os indígenas reivindicaram à ministra providências para a demarcação de terras. A região é a mais conflituosa no Estado, com várias situações de disputas entre indígenas e fazendeiros.
A ministra ouviu e recebeu documento alertando que os guarani kaiowa esperam avanços em 15 dias, sob risco de as lutas por retomada de terras serem intensificadas. “Se não houver resposta, vamos retomar e entrar nas nossas aldeias”, disse um dos participantes do encontro. De outra liderança, veio a promessa de que os indígenas irão despejar os fazendeiros se não houver demarcações.
A ministra foi até à assembleia acompanhada pela deputada federal Célia Xakriabá (PSOL/MG). No local, uma série de áreas da região foram apontadas como prioritárias para os procedimentos com vistas à demarcação. Os indígenas cobram a formação de grupos de trabalho para identificação de áreas e avanço em outras já reivindicadas, entre elas seis em Dourados, duas em Amambai, uma em Rio Brilhante e três em Iguatemi.
Eles decidiram fazer a assembleia com a presença de Sonia Guajajara naquele local para relembrar o assassinato do agente de saúde Clodiodi Aquileu Rodrigues, em junho de 2016, nas disputas por terra que deixaram ainda outros seis indígenas feridos, crime cujos autores ainda não foram julgados. Ali está a antiga área Yvu, atualmente Tekoha kunumi. Ela iria amanhã a Amambai para outra assembleia com os indígenas, mas a opção foi concentrar os grupos no encontro de hoje.
A ministra ouviu lamentos sobre o avanço da produção rural na região e cobranças firmes por apoio. “Tomaram nossa terra, acabaram com nossas caças, com nossos peixes e hoje estamos aqui, na terra nua. A senhora está no ministério para lutar por nós. Tudo virou um mar de cana, vale mais um pé de soja e um boi do que um indígena, fazem isso em cima de nossas terras. Já chega de matarem nossas lideranças”, foi um dos relatos que Sonia Guajajara ouviu.
Em nome das mulheres, Janete Ferreira revelou o medo enfrentado para reivindicar terras, uma luta que fazem de forma coletiva. “A gente vai e leva crianças, porque se a gente for morrer, então que morramos todos. Sabemos que tem bala de borracha e fuzil nos esperando, segurança privada e segurança pública. Para não perder nossos maridos e nossos filhos, a gente vai junto.”
Jovens também se manifestaram, relatando que acampam às margens da rodovia à espera de demarcação e resgatando o drama do suicídio. “Motivos não nos faltam. Ver o sofrimento do nosso povo, o preconceito contra nossos pais, dá vontade de pegar uma corda e colocar no pescoço. Única saída para o fim do nosso sofrimento é a demarcação do nosso território.”