Prefeitura diz que pediu auditoria em fundação um dia antes de operação
Administração de Délia Razuk é alvo de segunda operação por corrupção em três meses; PF vasculhou hoje a fundação que administra hospital e Secretaria de Saúde
A prefeitura informou na tarde desta terça-feira (12) que solicitou ontem uma auditoria nas contas da Funsaud (Fundação dos Serviços de Saúde), alvo da Operação Purificação, desencadeada hoje pela Polícia Federal em Dourados, a 233 km de Campo Grande.
Criada em 2015 para administrar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e o Hospital da Vida, a Funsaud é investigada por irregularidade na contratação da Marmiquente Comércio de Bebidas e Alimentos por R$ 1,8 milhão por ano para fornecimento de marmitex a pacientes e servidores.
Coincidentemente, o pedido de auditoria, assinado pelo secretário municipal de Saúde Vagner da Silva Costa, só foi divulgado após a operação, que na manhã de hoje cumpriu oito mandados de busca e apreensão e prendeu temporariamente o representante da empresa, Ronaldo Gonzales Menezes.
Auditoria completa – Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a prefeitura informou que o documento solicita “completa auditoria contábil e financeira” para conferir a aplicação dos recursos repassados mensalmente para a Fundação custear a manutenção do Hospital da Vida e da UPA.
Segundo a prefeitura, o objetivo é auditar os contratos firmados com a Funsaud de janeiro de 2017 a dezembro de 2018.
Alvo de mais uma operação por corrupção em 13 meses de mandato da prefeita Délia Razuk (PR), a administração municipal não se manifestou sobre a apreensão de documentos feita na sede da Secretaria de Saúde hoje cedo.
Em coletiva pela manhã, o coordenador da operação, delegado Denis Colares, informou que apesar de ser oficialmente autônoma, a Funsaud funciona como uma repartição sob o comando da Secretaria de Saúde. “Quem escolhe o diretor da Funsaud é o secretário de Saúde. Existe sim uma vinculação”.
A nota da assessoria da prefeitura afirma que a operação da PF apura como são aplicados os repasses feitos com dinheiro da saúde para a Fundação custear o funcionamento das unidades, mas não cita o fato de que a investigação é sobre suspeita de corrupção em processo de licitação.
Segundo a PF, a Marmiquente foi contratada em pregão presencial que só teve um participante – a própria empresa – e sagrou-se vencedora mesmo sem ter funcionários e equipamentos, adquiridos só depois da licitação.
“Desde que assumi estamos realizando os levantamentos em todos os setores da Secretaria e na Fundação de Saúde não poderia ser diferente. Por isso, já havia protocolado documento pedindo uma apuração de como a Funsaud está utilizando os repasses que fazemos todos os meses”, afirmou Vagner Costa por meio da assessoria.
Na segunda-feira, o presidente da Funsaud, Daniel Rosa, informou a vereadores em reunião na Câmara que a fundação recebe R$ 4,5 milhões por mês, mas tem déficit mensal de R$ 1,5 milhão.
Segunda em três meses – A operação desta terça-feira é a segunda deflagrada desde 31 de outubro do ano passado para investigar suspeita de corrupção na Prefeitura de Dourados.
No dia 31 de outubro, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul desencadeou a Operação Pregão, para desvendar esquema envolvendo fraude em licitações e dispensa ilegal de processo licitatório em troca de propina para beneficiar empresas terceirizadas.
A ex-secretária de Educação e atual vereadora afastada Denize Portolann (PR) foi presa naquele dia junto com o então secretário de Fazenda João Fava Filho – homem de confiança da prefeita Délia Razuk –, o então diretor de licitação Anilton Garcia de Souza e o empresário Messias José da Silva, dono da Douraser, uma das empresas do esquema.
Para o Ministério Público, as empresas terceirizadas foram contratadas a preços superfaturados, “permitindo lucro de 42% à empresa contratada”.
Além dos quatro presos, viraram réus na ação os empresários Rodrigo Gomes da Silva, Ivan Félix de Lima, Zazi Brum e Pedro Brum Vasconcelos Oliveira; o servidor efetivo da prefeitura Heitor Pereira Ramos, e os ex-servidores comissionados Antônio Neres da Silva Júnior e Rosenildo França da Silva, exonerados após a Justiça determinar o afastamento deles.
Também parecem como rés as empresas MS SLOTS Consultoria Técnica LTDA., Douraser Prestadora de Serviços de Limpeza e Conservação, GTX Serviços de Engenharia e Construção (de Campo Grande) e Energia Engenharia Serviços e Manutenções.
A segunda fase da operação, no dia 11 de dezembro, prendeu Rosenildo França e a mulher dele, Andreia Ebling. Ela teve a prisão revogada no mesmo dia e Rosenildo saiu três dias depois.
Entre as provas do envolvimento de Rosenildo com o esquema de corrupção está um utilitário Jeep Renegade, “presente” de Messias da Silva. A Douraser também teria pago uma cirurgia plástica para a mulher do contador.