Prefeitura é acusada de forjar números da dengue e abandonar saúde em Bonito
Passando por momento conturbado para escolher o próximo prefeito, o município de Bonito também é notícia pelo estado de calamidade da saúde pública. Moradores reclamam da demora nos atendimentos, da falta de médicos e acusam a secretaria municipal de forjar os números de casos registrados da dengue, tendo em vista que é uma cidade turística e a doença poderia afastar os visitantes.
A segurança Virgínia de Souza Tibúrcio, de 31 anos, moradora do Jardim Marambaia, conta que o filho de seis anos de idade e a vizinha estão com dengue. Ela reclama da situação do Hospital Darci João Bigaton, localizado no Jardim Andréa.
O filho Roberto reclamava de dor de cabeça e febre no último dia 18. O menino tem sopro no coração. A dor não passava, a temperatura da febre não diminuía e a segurança decidiu levar a criança ao hospital. “Só tinha um médico clínico-geral. Tinha muita gente doente na frente e demorou para atender ele com 37,5ºC de febre”. Ela conta que chegou ao hospital às 21h e saiu de lá à 1h da madrugada.
“Conseguir médico pediatra na cidade é complicado. São poucos pediatras e eles atendem só nos postos de saúde. Para ter uma consulta tem que agendar, vai de madrugada pega a senha, marca a consulta e volta daqui 20 dias”, relata a segurança que tem outros quatro filhos, de 3, 9, 12 e 14 anos.
Os casos de emergências são encaminhados para o hospital, mas a principal reivindicação é que só um médico no local. Quem tem condições de pagar um pediatra particular tem que desembolsar de R$ 180,00 a R$ 200,00.
No hospital também estava Elilene Ferreira do Nascimento, de 36 anos. A dona de casa aguardava desde as 11h40 às 13h para que atendessem a mãe dela, Marilene Ferreira do Nascimento, de 54 anos.
Ela conta que a mãe passou por uma pré-consulta, preencheu uma ficha e aguardava para ser chamada. “Só tem um médico e o atendimento demora bastante”, reclama. A mãe apresenta sintomas de dengue. Elilene conta que antes de ir ao hospital telefonou para os postos de saúde. “Fui informada que uns postos não tinham médicos e outros não tinham vagas”.
No hospital havia um ortopedista. O médico foi demitido e a falta do profissional prejudicou o atendimento a população. Os moradores afirmam que a demissão tem cunho político.
Edilene Romanosqui, de 40 anos, também diz que a demissão é relacionada à briga política. Ela estava com sintomas de dengue na semana passada e a filha de 16 anos também. “O atendimento demora bastante e nem tinha muita gente. Era enrolam mesmo”, afirma.
Quando foi atendida ela diz que o médico pretendia aplicar injeção de dipirona na veia. A reação foi imediata. “Ele me disse para procurar um médico, perguntei se não era médico. Ele disse que não, só estava ajudando”. Sem entender, a mulher foi embora com a filha.
Em abril do ano passado universitária de 19 anos morreu em virtude de erro médico. Letícia Gottardi Côrrea era alérgica à dipirona, entretanto teria recebido duas injeções com o medicamento no mesmo hospital. Também há denúncia de que outras duas pessoas morreram, recentemente, vítimas de negligência médica.
A estudante de Odontologia começou a passar mal, com dor no estômago. Na primeira vez que foi ao hospital, a jovem foi medicada com o soro e o médico anotou atrás do prontuário que ela era alérgica à dipirona.
Ela foi levada novamente ao hospital. O sogro avisou a médica de que a paciente era alérgica. Em seguida, a paciente tomou uma injeção, com medicamento direto na veia. A estudante foi liberada, mesmo com o alerta do noivo da jovem, questionando se não era melhor que a paciente ficasse em observação.
De volta a casa, Letícia começou a se sentir sufocada. A família retornou ao posto, onde Letícia tomou uma segunda injeção e foi liberada. Em casa, a jovem começou a passar muito mal, sendo levada ao hospital, onde morreu.
A reportagem do Campo Grande News tentou entrevistar secretária de Saúde, Renata Gomes Xavier, mas sem sucesso. As ligações no telefone da secretária também não foram atendidas.