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Interior

Sem-terra foram expulsos por fazendeiros, afirma Boulos sobre invasão em MS

Deputado disse que jagunços tiraram famílias “na marra” de fazenda em Japorã; Famasul repudiou invasão

Helio de Freitas, de Dourados | 23/02/2023 15:23


O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) culpou fazendeiros pelo despejo sem ordem judicial de trabalhadores sem-terra, domingo (19), em Japorã, a 467 km de Campo Grande. Famílias lideradas pela FNL (Frente Nacional de Luta) foram obrigadas a deixar a fazenda ocupada no dia anterior. Barracos e até a casa da sede foram queimados (veja o vídeo acima).

“Os trabalhadores foram expulsos das terras por milícias montadas por fazendeiros, muitos deles bolsonaristas, jagunços que se organizaram, para tirar na marra os trabalhadores que estavam ali lutando por reforma agrária, muitas vezes por terras abandonadas, sem nenhuma função social”, afirmou Boulos em vídeo postado na página da FNL no Instagram.

Ao Campo Grande News, a Frente Nacional de Luta informou que pelo menos 80 trabalhadoras ocuparam a fazenda Fernanda na manhã de sábado (18), mas foram expulsos no dia seguinte.

Segundo a entidade, os trabalhadores tomaram conhecimento de que grupos que se intitulam “patriotas”, alguns fazendeiros e sitiantes estavam se organizando pelas redes sociais para acabar com a ocupação. Atendendo à convocação, o grupo se concentrou perto da fecularia de Mundo Novo, na BR-163, e seguiu para a propriedade.

“No fim da tarde de domingo chegaram em mais de 30 carros lotados e muitos armados. Boa parte das pessoas estava buscando material para melhorar a estrutura dos barracos e os pouco que ficaram foram agredidos verbalmente. Dois trabalhadores foram espancados”, denuncia a FNL.

Além das ameaças, segundo a entidade, o grupo de proprietários teria queimado todos os pertences e barracos dos acampados e até mesmo as casas existentes na propriedade.

“A FNL continuará a organizar os trabalhadores para a conquista da terra. A luta pela reforma agrária só para quando triunfar. Essas pessoas que acham que podem se armar para amedrontar os trabalhadores, têm a justiça para cuidar delas. Seguiremos denunciando às autoridades. A FNL não vai se envolver em confrontos com esse tipo de criminosos”, afirmou a Frente Nacional de Luta.

Vídeos enviados ao Campo Grande News mostram o grupo de proprietários e funcionários dentro da fazenda, ainda durante o dia, e o fogo tomando conta da casa e dos barracos, quando já estava noite. Nas imagens é possível ver luzes de uma viatura da polícia.

Segundo boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil, policiais militares foram à propriedade ocupada, mas quando chegaram, os sem-terra já tinham sido expulsos e os barracos e a casa da sede queimados.

Repúdio – Em nota encaminhada pela assessoria de comunicação, a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS) repudiou as invasões de propriedades privadas ocorridas nos últimos dias em Mato Grosso do Sul e em outros estados brasileiros.

Também manifestou preocupação quanto às declarações de lideranças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da FNL, de que ocorrerão outras invasões nos próximos dias.

As ocupações seriam para pressionar os governantes a encaminharem áreas para reforma agrária, para assentamento imediato de famílias que lutam por direito à terra. Hoje, o MST informou que voltou a arregimentar famílias e começou a montar acampamentos em duas regiões de MS.

“A despeito dessas reivindicações, ressaltamos que existem mecanismos legais previstos em Lei para tais finalidades, como a aquisição por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário e a desapropriação pelo poder público de áreas que não cumpram o papel social da terra. Diante disso e respeitando o direito de propriedade, previsto na Constituição Federal, não podemos aceitar com normalidade a invasão de propriedades privadas, a depredação do patrimônio privado”, afirma a Famasul.

Para a entidade ruralista, a articulação reflete movimento de cunho político e ideológico. “Diferente do que quer parecer, o movimento não se origina de legítima reivindicação social. Isso porque, conforme prevê lei nº 8.629/1993, a invasão como reivindicação de reforma agrária bloqueia a propriedade para o referido fim”.

A Famasul cobrou providências imediatas ao poder público para que seja restabelecido o direito de propriedade e preservadas garantias, como segurança e integridade a todos os cidadãos brasileiros.

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