Velório de terena morto em reintegração tem ritual, protesto e acusação
Com ritual para expressar tristeza e angústia, o velório de Oziel Gabriel, de 35 anos, acontece na sua casa, na aldeia Córrego do Meio, a 25 km de Sidrolândia. O caixão foi colocado sobre uma mesa e levado para a pequena varanda do imóvel. O velório acontece em clima de indignação e gritos de “Justiça”.
Irmão da vítima, Jabes Gabriel, de 41 anos, relata que estava a 200 metros de Oziel. Segundo ele, o disparo partiu de um policial federal. Integrante de comissão de demarcação de terra, o cacique Benício Jorge, 51 anos, expressa revolta. “Estamos revoltados com os governantes do nosso país. A morte vai fortalecer o nosso movimento. Que seja responsabilizado quem autorizou a entrada da Cigcoe e da Polícia Federal”, afirma.
A morte de Oziel repercutiu pelo país. Em geral, o tom das autoridades foi de lamento. “Vamos apurar com muito rigor o que houve. Se houve abuso, todos os responsáveis serão punidos”, declarou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
O deputado federal Fabio Trad (PMDB) disse que a morte da desocupação da fazenda Buriti, foi uma tragédia anunciada. O arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara, lamentou o conflito.” Infelizmente um problema conhecido no mundo inteiro”, comentou sobre a disputa entre índios e fazendeiros em Mato Grosso do Sul.
A ação na fazenda Buriti durou nove horas, das 6h às 15h. A reintegração de posse, determinada pela Justiça Federal, foi cumprida pela PF (Polícia Federal), com apoio da PM (Polícia Militar). O imóvel rural pertence ao ex-deputado Ricardo Bacha.
Os terenas atearam fogo a ponte e casas na fazenda Buriti. A PF apreendeu armas artesanais, facões e duas espingardas. A fazenda foi invadida pelos terenas em 15 de maio. No mesmo dia, saiu uma decisão para que os índios deixassem o local. Mas a reintegração não foi cumprida e no dia 18 a decisão acabou suspensa até quarta-feira, quando foi realizada audiência na Justiça Federal.