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Política

Pai de vereador assassinado diz que filho contestaria verba solicitada por prefeito

João Humberto | 14/12/2010 18:59
Alcindo Carneiro, pai do vereador Carlos Antonio, que foi morto no dia 26 de outubro na Capital, foi o penúltimo a depor. (João Garrigó).
Alcindo Carneiro, pai do vereador Carlos Antonio, que foi morto no dia 26 de outubro na Capital, foi o penúltimo a depor. (João Garrigó).

Pai do vereador Carlos Antonio Carneiro, assassinado no dia 26 de outubro deste ano em Campo Grande, o vice-prefeito de Alcinópolis, Alcindo Carneiro, disse hoje, em depoimento na 2ª Vara do Tribunal do Júri do Fórum da Capital, que quando o filho foi assassinado, tinha em seu poder uma série de documentos que comprovavam que os recursos arrecadados pela Câmara no ano passado realmente estavam sendo utilizados na edificação de um novo prédio da Casa de Leis na cidade.

Alcindo explicou que o prefeito Manoel Nunes da Cunha (PR) requeria a devolução do dinheiro da Câmara para aplicar no Orçamento deste ano e aponta que seu filho e outros vereadores da situação descobriram que o republicano estaria gastando mais do que o valor estipulado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, ou seja, Carlos Antonio e outros vereadores persistiram em usar R$ 273 mil que sobraram das economias da Câmara na aplicação dos recursos para a edificação de um novo prédio.

Neste ano, o prefeito teria utilizado duas caminhonetes Hilux da prefeitura para vir até Campo Grande e participar, na companhia de assessores, de uma confraternização política para lançamento de candidatura de um deputado estadual. Carlos liderou um movimento para denunciar o prefeito à Justiça, já que sempre que as caminhonetes eram solicitadas para trabalhos em prol de Alcinópolis ele costumava inventar desculpas, conforme depôs Alcindo no Fórum da Capital.

“Certa vez meu filho veio para Campo Grande e foi procurado por um homem chamado Ivo, que o chamou até um escritório e perguntou se ele estaria querendo denunciar o prefeito. Ele chegou a perguntar para o Carlos quanto queria para fechar a boca e ainda o questionou se não tinha medo de denunciar o prefeito. Carlos disse que se o Mané [prefeito] desse um alvará para a construção da nova Câmara, o assunto poderia ser esquecido”, relatou Alcindo.

O vice-prefeito de Alcinópolis alegou que dois dias depois da conversa entre seu filho e Ivo, o prefeito concedeu alvará para a construção da nova edificação. Contudo ele solicitou os R$ 273 mil, só que Carlos e os outros vereadores preferiram não entregar.

Em contato com advogados, Carlos foi orientado a fotografar as obras de edificação, bem como as xerox dos documentos de compra dos materiais usados na construção e protocolar defesa junto ao TCE/MS (Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul), contestando a devolução do valor e questionando uma possível multa que poderia variar de R$ 15 a 20 mil.

“Eram esses documentos que estavam com meu filho quando ele foi assassinado”, reforçou Alcindo.

Sobre a cópia de uma passagem destinada pela prefeitura ao pistoleiro Ireneu Dias, Alcindo disse que o autor do homicídio do filho foi até sua casa no dia 1º de outubro, às 20h, solicitando uma passagem para Campo Grande, por conta das eleições. “Eu pedi para ele procurar a prefeitura e solicitar a passagem, sendo que ele já havia feito isso pela manhã. Quero saber por qual motivo ele foi à minha casa fazer esse pedido”, questionou o vice-prefeito de Alcinópolis, afirmando tem conhecimento de que o homicida ficou hospedado por vários dias numa pensão da cidade.

A requisição da passagem foi anexada ao processo.

Ameaças - Quando questionada pelo juiz Aluizio Pereira dos Santos se tinha conhecimento de alguma ameaça feita ao marido, a professora Nara Simone Silva Carneiro, disse que, dois meses antes de ser assassinado, Carlos foi chamado para ir até Coxim conversar com uma pessoa que perguntou a ele se “não tinha medo de amanhecer com a boca cheia de formiga”. O pai do vereador, que acompanhava o depoimento da nora, se emocionou neste momento.

Investigações detalham que Ireneu foi até Alcinópolis para cometer o crime, mas pelo fato de considerar a cidade pequena, teria desistido do plano.

O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2 ª Vara do Tribunal do Júri, responsável pelo processo, já marcou a audiência para ouvir as testemunhas de defesa e os acusados da execução. Será no dia 8 de fevereiro.

São 9 testemunhas ao todo, mas só 7 serão ouvidas em Campo Grande. Duas vão ser interrogadas em Ponta Porã, cidade de origem de Ireneu Maciel, o homem que atirou no prefeito.

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