A crise do bem-estar social atinge em cheio as esquerdas
Muito além das disputas insanas entre petismo e bolsonarismo, há no ar um clima de longa crise. Uma crise que não tem data para acabar e pode ter um final imprevisível. Não há dinheiro para sonharmos com um estado de bem-estar social. Na superfície, há uma celeuma entre esquerda e direita; nas profundezas, os governantes estão sem dinheiro. A crise está posta e dela não sairemos tão cedo.
Uma crise ocidental.
Não há elemento mais famoso da sociedade de bem-estar social que o Sistema de Saúde britânico, que tentamos copiar. Foi a joia da coroa é motivo de inveja de todos os países. Hoje, está em ruínas. Na França, lutam rua a rua pelo futuro das aposentadorias. São as maiores mobilizações em décadas. Em quase todos os países discutem se a educação tem condições de continuar sendo o elevador social que se construiu há décadas. Atualmente, a educação não passa de um monopólio de oportunidades para os mais ricos. Não há dinheiro e nem conseguiu continuar em sua velha condição de garantir a ascensão social.
Desde o berço até a sepultura.
O direito ao trabalho e todas as vantagens que existiam, não passa de um poste bem fincado que está tremendo. O teletrabalho e as altas tecnologias estão dessocializando esse mundo. Cada vez mais gente está fora dos convênios coletivos de saúde, alimentação e transporte. Em suma, desde a proposta do britânico Clement Attlee, que deveria proteger o cidadão desde o berço até a sepultura, está em dificuldade.
Veio para mudar o mundo.
Bernard Shaw, o polêmico escritor, Nobel da Literatura, dizia que o estado de bem-estar social marcaria uma mudança radical na política e na sociologia, da mesma maneira que "A origem das Espécies", de Darwin, mudou as ciências e a filosofia. Segundo Shaw, a proposta era: "perfeita, sensata e prática ao mesmo tempo, perfeita para inspirar e atrair as novas gerações". E era totalmente compatível com a liberdade de mercado e com a democracia. Mas essa ideia é cara, só se sustenta com muito dinheiro.
Os três mundos do bem-estar social.
Há três padrões de bem-estar: o social-democrata, o conservador e o liberal. O primeiro é o dos países nórdicos europeus - Suécia, Dinamarca, Finlândia e Noruega. Neles, há universalidade nas políticas públicas e no gasto social por habitante. É bem mais caro que os demais. Os impostos são elevadíssimos. O segundo é o conservador, existente na Itália, Espanha, Portugal, França, Alemanha e Áustria. Não há universalidade, mas há esforços públicos para proteger os mais necessitados. Os impostos ficam em um patamar mediano. O ultimo é o modelo liberal, praticado nos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Nesses países, a proteção social é mínima, quando comparado com os demais citados. Consequentemente, os impostos são bem mais baixos.
E o Brasil?
Guedes tentou destruir o pouco que temos de bem-estar. Não conseguiu. Haddad tudo fará para ampliar o bem-estar. Dificilmente conseguirá. A questão chave está no dinheiro. Não havia dinheiro no tempo de Guedes. A ideia dele era arrumar dinheiro vendendo, privatizado todas as estatais para investir em infraestrutura. Não andou nem um metro, quando afirmava que andaria milhares de quilômetros. Foi apenas um conversa fiada, mais um enganador na Brasília, capital dos falsários. Guedes só arrumou dinheiro aumentando nosso endividamento externo. Haddad só tem essa mesma saída: comprar dinheiro dos gringos, aumentando ainda mais nossa dívida externa. Nosso estado de bem-estar social nunca se consolidou. Não há qualquer esperança que tenhamos um estado de bem-estar abundantemente previsto.