Associação de Okinawa diverge sobre origem do sobá e réplica do autor da coluna

Nota enviada pela Associação Okinawa de Campo Grande

Venho por meio deste expressar alguns apontamentos em relação à matéria intitulada "Não confundam: sobá é de Tóquio, yakisoba veio de Okinawa", publicada em 03 de novembro de 2023. Antes de tudo, gostaria de parabenizar o Campo Grande News pela iniciativa de explorar temas que entrelaçam a cultura campograndense e a influência okinawana em nossa cidade. No entanto, é com respeito que trago à sua atenção algumas inverdades presentes no artigo, especialmente no que diz respeito à origem do sobá de Campo Grande. Para compreender essa história é imperativo reconhecer que, até 1879, Okinawa fazia parte de um reino independente (reino de Ryukyu), com sua própria cultura, história, culinária e língua, distintas do Japão. Nesse ano (1879), o reino foi anexado pelo império japonês, dando início a um processo de colonização e apagamentos. Boa parte de nós, descendentes de okinawanos, não nos identificamos como (descendentes de) “japoneses”, mas sim como “okinawanos” ou "uchinanchus" (pessoa de Okinawa, na língua de Okinawa). Esta distinção é fundamental para compreender a gênese cultural em Campo Grande, principalmente considerando que a maior parte dos imigrantes "japoneses" que aqui se estabeleceram desde 1914 eram, na verdade, de Okinawa, fazendo com que Campo Grande seja conhecida como a cidade mais “okinawana” do país, um fato bastante peculiar. A influência cultural okinawana em Campo Grande é bastante evidente, particularmente no sobá e na prática do moai, que se popularizaram em nossa cidade. “Sobá Okinawano X Soba Japonês”: embora possuam o mesmo nome “soba”, esses dois pratos correspondem a tradições culinárias completamente distintas, cada qual com suas peculiaridades e variantes. Enquanto o soba japonês é feito necessariamente de trigo sarraceno, o de Okinawa é preparado com trigo branco comum. O sabor único do sobá de Campo Grande tem origem do prato okinawano. O consumo de sobá em Okinawa remonta ao período em que era um reino independente, datando de pelo menos 400-500 anos atrás, devido às intensas trocas culturais e comerciais entre China e Okinawa desde o século XIV. Já em Campo Grande, o sobá okinawano faz parte do cenário gastronômico desde a década de 40, trazido pelos imigrantes okinawanos, adaptando-se ao paladar campo-grandense, enraizando-se na cultura local e tornando-se patrimônio imaterial da cidade em 2006. Dito isso, a afirmação do autor de que o sobá consumido em Campo Grande não teria origem em Okinawa, não procede. Trata-se de um fato histórico-cultural: o “sobá de Campo Grande” é uma adaptação do “sobá okinawano” e não guarda relação com o “soba japonês”. Quanto ao yakisoba, iremos realizar uma pesquisa para entender melhor a história desse prato em Campo Grande. Gostaria gentilmente de solicitar que esta história seja publicada e compartilhada com o público leitor do Campo Grande News, a fim de esclarecer a origem correta do sobá de Campo Grande e evitar possíveis confusões decorrentes do artigo em questão. A precisão dessa narrativa é de suma importância para nossa comunidade, e contribui significativamente para o entendimento mais amplo da história e cultura de Campo Grande, no presente e no futuro. Estamos à disposição para futuros diálogos e colaborações, sempre com o objetivo de enaltecer e preservar a rica tapeçaria cultural de nossa cidade.

Atenciosamente, Marcel Arakaki Asato
Presidente da Associação Okinawa de Campo Grande

Réplica do autor da coluna.

Como descendente de italiano, estudei a origem do macarrão. Acabei me convencendo que o macarrão originou-se na China. Confiei no trabalho arqueológico da Universidade de Xinjiang (China) e do japonês Satiro Yachiro, especialista em DNA de grãos. Esse estudo foi realizado na região das famosas Montanhas Flamejantes, onde descobriram centenas de sepulturas e múmias, além de resquícios do macarrão. Confesso que foi uma decepção, mas essa é a verdade: o macarrão não surgiu na Itália, é chinês.

Surpresa: sobá é de Tóquio.

O macarrão desembarcou no Japão pouco depois. Por volta do ano 1.000 d.C.. Monges zen-budistas japoneses levaram consigo não só os segredos do preparo do macarrão, mas também outras tradições da culinária ancestral chinesa, como temperos à base de gengibre. Mas foi só no início dos anos 1.700 d.C. que a força comercial de Edo, atual Tóquio, começou a atrair mais de um milhão de pessoas. Uma cidade maior que Pequim, Paris ou Londres. A explosão populacional da cidade obrigou as autoridades a construírem diminutas casinhas - nagayas - de apenas 20 metros, suficientes apenas para se deitar e dormir após um dia de trabalho. Não havia como cozinhar. "E foi assim que surgiram as primeiras yatais, barracas móveis onde vendiam alguns alimentos de cozimento rápido, tidos como as primeiras fast-food. Os cozinheiros de Edo inventaram um blend de farinhas: uma parte de trigo comum para quatro de trigo sarraceno. O resultado foi uma farinha mais difícil de se misturar com água, e que ficava menos viscosa. Assim nasceu o sobá, o macarrão japonês", diz Jacques Schop. Os melhores estudos, creio, estão no livro "Pasta", da Editora Melhoramentos, de vários autores, com quase 400 páginas.