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Em Pauta

Caiu da cadeira. A história do ditador que morreu duas vezes

Mário Sérgio Lorenzetto | 26/02/2023 10:31
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Era 3 de agosto de 1.968. No forte de Santo Antônio da Barra, o ditador, líder da mais longeva ditadura europeia, prepara-se para tratar os pés com um calista, um técnico que deveria livrá-lo das dores e perturbações com seus calos. Inesperadamente, a cadeira onde se sentara quebra-se e o ditador esborracha, bate com a cabeça na pedra dura do chão. Seu nome é Antônio de Oliveira Salazar, o ditador que comandou Portugal por 30 anos de sangue - seus opositores falam em mais de 20 mil mortos -, mas também de acumulação de uma das maiores riquezas que aquele diminuto pais já vira.


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O insólito mandato de dois anos que não houve.

O período, de dois anos, que se seguiu, não poderia ser mais insólito. Seus mais próximos assessores criaram uma encenação de poder e de normalidade até o dia da morte de fato do ditador. Na sequência da queda da cadeira, Marcello Caetano foi chamado a substituir Salazar no comando do conselho que dirigia o país. A situação semicomatosa de Salazar foi mantida em segredo, inclusive dele mesmo. Ninguém tinha coragem de contar para o ditador que havia outro no poder.


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Cenas de um poder que já não existia.

Ao longo dos dois anos seguintes, o seu gabinete encenava, diariamente, uma farsa para manter o ditador na ignorância sobre a mais real das quedas: a do poder. Já tinha caído da cadeira, não sabiam como contar que também tinha caído do poder. Reuniões do conselho e visitas de autoridades, entrevistas de rádio e televisão, até uma impressão diária exclusiva do Diário de Notícias - um jornal imaginário escrupulosamente montado para manter Salazar na ilusão de poder-  foram providenciados. Um velho ditador que já não o era. A realidade superou a mais prodigiosa imaginação. A aversão do poder à mudança e quão ridículo um poderoso pode ser. Salazar caiu da cadeira, do poder e da vida.

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