Como bumerangues: os guatós devolviam as flechas paiaguás
A cena é digna de um super-herói. O capitão paulista Domingos Lourenço de Araújo conta que quando as canoas paiaguás atacaram as canoas dos guatós, estes últimos lançaram mão dos arcos por ter se acabado a pólvora. Esses guatós eram tão destros que apanhavam no ar as flechas dos inimigos, as metiam em seu próprio arco e atiravam de volta, como se fossem bumerangues.
Mais ágeis que ginastas olímpicos.
Esse capitão conta outra performance acrobata dos guató. Quando os paiaguás viram que o ataque com flechas não tinha sucesso, tentaram matar os guatós com lanças. "Mas ao tempo em que lhe apontavam ao peito, com um salto se suspendiam no ar, e se livravam caindo na água, mas de outro salto, tornavam a recuperar a canoa e fazendo da popa proa cuidavam de se salvar". Esquivavam-se das lanças saltando, caiam na água e voltavam, em outro salto, para dentro da mesma canoa de onde tinham pulado.
A intolerância entre indígenas.
A Guerra entre guatós e paiaguás é o confronto entre duas humanidades tão diversas, tão heterogêneas, tão verdadeiramente ignorantes uma da outra que não deixa de impor-se entre elas uma intolerância mortal. Ambas são nações indígenas que só guerreiam na água, vivem em canoas, habitam o mesmo espaço geográfico e pouco diferiam fisicamente uma da outra - os guatós eram mais baixos e corpulentos. Ainda assim, não admitiam a coexistência. Ambas atacavam paulistas e cuiabanos com extrema eficiência. As inúmeras vitórias indígenas só desaparecerão quando os brancos resolveram somente viajar pelos rios em frotas. Os paiaguás foram exterminados. Os guatós foram reduzidos a diminutos três núcleos, um no Mato Grosso do Sul e dois no vizinho Mato Grosso.
A ressurreição guató.
Foi entre 1.940 e 1.950 que se iniciou de modo mais intenso a expulsão dos guató dos territórios onde viviam. O gado dos fazendeiros e os comerciantes de peles dificultavam a permanência deles nas margens do rio Paraguai e de seus afluentes. Acuados, migraram para a periferia de cidades, como Corumbá, Ladário, Aquidauana, Poconé e Cáceres. À partir da década de cinquenta foram considerados extintos. Foi somente em 1.976 que missionários identificaram guatós vivendo na periferia de Corumbá. Aos poucos esse grupo começou a se organizar para obter o reconhecimento étnico. São os últimos canoeiros do Pantanal.