"Destinadas", 4.000 mulheres condenadas à fome e exaustão
Esta é a história, pouco divulgada, de uma marcha. Marcha da crueldade e insensatez. Solano Lopez, o enlouquecido ditador paraguaio, mandou matar pelo menos 4.000 mulheres e crianças de várias nacionalidades, inclusive brasileiras e paraguaias. É possível que essa condenação tenha atingido muito mais, talvez tenha chegado a 20.000 mulheres.
A grande matança.
A população do Paraguai foi estimada em 300 a 400 mil habitantes às vésperas da guerra. Estimam em quase 70% de perdas de vidas humanas no Paraguai. Homens em idade de 15 a 60 anos o número é muito maior: estimam em 99% de mortos. Os vivos foram em massa para o norte da Argentina e para o Brasil. Por volta de 1.920, existiam 100 mil paraguaios e paraguaias no Mato Grosso do Sul.
Organizando as mulheres para matar.
O tratamento das mulheres sob o governo de Solano Lopez foi deliberadamente organizado sob cinco categorias. Organização para matar. As "traidoras" eram aquelas casadas, irmãs, filhas, mães e primas de homens condenados ou perseguidos pelo governo. As "destinadas" também eram parentes dos acusados por Solano, mas deviam morrer de fome e exaustão. As "residentas" eram aquelas capazes de exercer alguma tarefa, mas também estavam condenadas pois tinham de seguir as tropas até o final do conflito. Já as "sargentas" deviam exercer atividades policialescas. E, por fim, as "agraciadas", esposas ou filhas da elite civil e militar leais a Lopez.
"Destinadas" a vagar até morrer.
É impossível não se comover com o impressionante relato da tragédia que se abateu sobre 4.000 mulheres e crianças que foram jogadas na estrada para morrer. Ao longo desse caminho restaram milhares de cadáveres. Tão somente 400 mulheres conseguiram chegar até as tropas brasileiras e serem salvas. Apenas 10%. O relato mais pungente é de uma filha de franceses, denominada Dorothéa Duprat de Lasserre. Faz parte de um livro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul sob o título "Memórias da Grande Guerra".