Evangélicos, o voto cobiçado e a Teologia da Prosperidade.
O país mais católico do mundo vive uma profunda transformação que se pode resumir em poucos dados. A cada ano são abertos no Brasil 14.000 templos evangélicos, mais de um a cada hora. Estima-se que em apenas dez anos os evangélicos superarão os batizados na Igreja de Roma. Atualmente, os católicos rondam a metade da população, em torno de 108 milhões. Os evangélicos são um terço da população - 65 milhões. Em um país com 165 milhões de eleitores, os evangélicos compõem uma comunidade pulsante e cada vez mais cobiçada pelos políticos.
Mães de família, pobres, negras e das periferias.
Um bom estudo sobre a ascensão evangélica no Brasil, mostrou que quem lidera o ingresso da família nas igrejas evangélicas são mães de família, pobres, negras ou mestiças, que vivem nas periferias das cidades. São uma comunidade extremamente diversificada. Ao mesmo tempo que há multimilionárias, como a Igreja Universal - possui canais de televisão, prédios suntuosos, um partido político e 44 deputados federais - a maioria possui apenas o básico: uma Bíblia e algumas cadeiras de plástico em um pequeno prédio. Mas todas elas possuem algumas características comuns: interpretam a Bíblia de maneira literal, consideram imprescindível fazer proselitismo para cooptar novos adeptos e a música roça o êxtase.
Falta padre, sobra pastor.
Enquanto a igreja católica vive, há décadas, uma escassez crescente de padres, que apregoem sua fé e vivam nas periferias das cidades, o pastor vive com sua esposa no mesmo bairro dos fiéis. O papa Francisco tentou criar uma exceção para o Estado do Amazonas, no Brasil. Padres casados seriam ordenados. Não obteve aprovação no Sínodo de 2.019, a reunião dos mandatários do Vaticano. O fosso entre as duas religiões tende a se assentar. O pastor sabe quem trabalha, quem perdeu o emprego, quem bebe em demasia e o nome de cada um dos fiéis. O padre desconhece totalmente aqueles que entram na igreja, vive em lugares distantes dos fiéis.
A Teologia da Prosperidade.
Há um ranço, ou apenas desconhecimento, dos pressupostos da Teologia da Prosperidade, apregoada pelos evangélicos. Estas igrejas - ricas e humildes, grandes e pequenas - suprem a infinidade de vazios provocados pela debilidade dos governos. Não se dedicam a discutir se a Bíblia em latim ou em hebreu significa o mesmo. Falam de roubos, gravidez de jovens, de violência nas ruas, de violência doméstica. É uma religiosidade com rosto de povo. Fala a linguagem do povo. Discutem seus mais graves problemas: desemprego, pobreza, violência, maus tratos. Sinto saudades dos padres do povo.