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Em Pauta

Leite: da "chacina de inocentes" e "veneno líquido " a sinônimo de vida

Mário Sérgio Lorenzetto | 11/05/2023 08:20
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

O leite já foi mortal; agora é seguro. Como isso aconteceu? Peça para as pessoas responderem a essa pergunta e elas invariavelmente dirão que a pasteurização foi a responsável pela mudança. Transformamos o leite, de "veneno líquido" em alimento básico para a vida, graças à química. Essa explicação é lamentavelmente incompleta. Uma medida simples de por que está incompleta é o tempo que levou para a ideia de Pasteur realmente ter um impacto significativo sobre a segurança ao bebermos leite.


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Pasteur estudava o vinho e a cerveja.

Em 1.854, aos 32 anos, Pasteur conseguiu um emprego na Universidade de Lille, na França, perto da Bélgica. Estimulado por conversas com vinicultores, ficou interessado na questão de por que certos alimentos e bebidas estragavam. Foi estudar a cerveja e o vinho. Ao examinar amostras de álcool de beterraba estragado ao microscópio, conseguiu detectar uma bactéria em forma de bastonete agora chamada de "Acetobacter aceti", que converte etanol em ácido cético, o,ingrediente que dá sabor azedo ao vinagre. Pasteur descobriu que as misteriosas mudanças de fermentação e de deterioração eram resultado de reações químicas. Essa sacada forneceu os fundamentos da teoria microbiana das doenças e de técnicas para matar os micróbios com o uso da temperatura.


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Cinquenta anos depois.

Hoje, todo leite é pasteurizado, técnica, usando temperatura, inventada por Pasteur em 1.865. Contudo, a pasteurização só se tornou prática padrão da indústria de leite na Europa e nos EUA, em 1.915, cinquenta anos depois de Pasteur ter desenvolvido a técnica. Esse intervalo de tempo certamente custou milhões de vidas em todo o mundo. No Brasil, como quase tudo, demorou mais. Só na década de 1.920, algumas poucas indústrias começam a oferecer leite pasteurizado.


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Jornalismo e ativismo.

Esses atrasos, aconteceram porque o progresso não é apenas o resultado de descobertas científicas. Também requer outras forças: jornalismo investigativo e ativismo são essenciais. A ciência sozinha não pode melhorar o mundo. Também é preciso lutar. No caso do leite, a luta foi contra os entregadores de leite natural de porta em porta. Como eram muitos entregadores, durante muito tempo, continuaram disputando o mercado com o leite pasteurizado industrial. Estavam devidamente protegidos por alguns políticos à caça de seus votos, e do trabalho de conquistar os moradores das casas por eles atendidas. Não se interessavam pela "chacina de inocentes", como era denominado o leite natural. Foi assim que criaram uma vertente, que continua atual, de demonizar os produtos industrializados.

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