Mortadela para 30 mil defensores de Lula. E coxinha?
A decisão do STF de soltar José Dirceu mudou o clima de desespero que tomava conta da militância petista. Em nota pública, aplaudiram a decisão favorável a Dircel e aproveitaram para conclamar eleições diretas ainda neste ano. A mobilização para a "defesa" de Lula cresceu. Inicialmente, falavam em 30 mil petistas reunidos em Curitiba no dia 10 de maio.
Agora, com as ultimas noticias do crescimento do número de caravanas de Estados do Nordeste, passaram a acreditar que chegarão a 40 mil manifestantes. Alguns, pelo menos nas redes sociais, falam em deixar Curitiba só mortos. O radicalismo perigoso corre solto. A organização do evento em defesa de Lula também está acelerada, estão criando uma "padaria comunitária" para alimentar os 30 ou 40 mil petistas com o indefectível pão com mortadela.
No outro lado da trincheira, muito se fala em demonstração de força dos anti-Lula nas redes sociais. Não há organização visível de caravanas. Muito menos de distribuição de coxinhas. Apesar da falta do alimento-básico anti-petista, bem como de organização, não resta dúvida que por lá estarão para o "grande confronto". E viva o radicalismo!
Contra a democracia. O julgamento de Sócrates
Novamente. Mais uma vez, forças consideráveis se levantam contra a frágil democracia brasileira. Esse embate entre democratas e tiranos não nasce nesse momento de crise. Nem nasce no Brasil. Tem profundas raízes. Talvez seu ápice tenha ocorrido há 2.400 anos, quando foi julgado Sócrates - considerado hoje, o "pai da filosofia". Quem era esse homem? Porque foi julgado? Para a maioria dos estudiosos, os julgamentos de Jesus Cristo e de Sócrates são os mais importantes da humanidade. O primeiro julgou uma nova ideia com bases religiosas, que daria origem a um dos mais importante movimento de mudanças da humanidade.
No segundo estava sendo julgada a continuidade da democracia. Esse julgamento está imerso em um paradoxo. Ao contrário do que muitos pensam, Sócrates não era a favor da democracia, mas o tribunal que o levou a tomar cicuta - um veneno - defendia a liberdade de expressão, elemento essencial da democracia. Um defensor da tirania - Sócrates - julgado por um tribunal que defendia a democracia. Não somos apenas nós brasileiros que tomamos decisões errôneas e contraditórias. Desde seu "nascedouro", os tribunais tomavam decisões que seriam contestadas ao longo dos séculos.
Sócrates, o Mito
Bolsonaro é um mito? Messi é um mito? Mito de verdade foi Sócrates. Um homem superior, que enfrentava a multidão com serenidade e senso de humor. Um homem de profunda sapiência que demolia as crenças dos cidadãos de Atenas. Ele era "apenas" o mais sábio dos homens., para seus seguidores Mas a verdade mesmo é que Sócrates era um "idiota". Na Grécia de seu tempo, "idiote" era todo homem que não participava dos debates políticos da cidade. Era um "apartidário" dos dias atuais.
Sócrates era um homem feio, narigudo e desleixado. Andava sempre descalço. Usava uma única túnica ao longo de um ano. Pai de três filhos, desprezava Xantipa, sua esposa, a quem chamava de megera. Chegou aos 70 anos sem nunca ter tido um só trabalho. Passava os dias no ócio, bebendo e conversando com amigos e discípulos. Criticava os sofistas, professores que ensinavam retórica e filosofia, mas cobravam pelas aulas. Desprezava todo tipo de trabalho manual. Um excêntrico, um esquisitão. Também era visto como um arrogante por dizer que falava com o Oráculo de Delfos, algo semelhante a falar com Deus. Também gostava de interpelar as pessoas em público, levando-as à vergonha.
Sócrates, o defensor da tirania
A Grécia daquele tempo vivia como vivemos na época da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Naquele tempo, os oponentes eram Atenas contra Esparta. Nessa cidade - Esparta - a disciplina militar era muito mais valorizada que a liberdade de expressão. Esparta representava tudo que os democratas atenienses mais detestavam. Em três tentativas de golpes contra a democracia ateniense - 411, 404 e 401 a.C. - seus comandantes eram políticos simpáticos aos ideais espartanos, vários deles alunos de Sócrates. Isso é fundamental ser entendido. Não existem apenas golpistas, detratores da democracia, sempre existe uma escola que os prepare e estimule. À esquerda e à direita. As teorias antidemocráticas estavam tão identificadas com Sócrates que os jovens identificados com os ideais espartanos eram chamados de: "cabeludos, famélicos, sujos e socráticos".
O dia que Sócrates foi julgado
Um homem de 70 anos entra no Tribunal de Atenas. Estava sendo acusado de desrespeitar os deuses e de corromper a juventude. Não se defende e nem aceita defensores. ironiza seus acusadores. Desmoraliza a "fraqueza" e "corrupção" dos atenienses. Veredicto: culpado. Foram 280 contra 220 votos. Isso mesmo, o Tribunal era composto por 500 pessoas. Apesar das ideias em favor da tirania, Sócrates não cometera nenhum crime além de expressar seu pensamento. Mas Sócrates queria morrer. Ele era contrário à livre expressão do pensamento, e preferiu a morte à incoerência. Sócrates morreu sem negar o que acreditava. Mas a democracia grega negou seus próprios valores ao condená-lo. Uma nódoa indelével manchou a ideia da democracia desde seus primeiros passos. É esse o crime trágico de Atenas. Jamais. Nunca, devemos desrespeitar nossos opositores. A opção é a tirania.