Novos tempos: oposição furiosa é o caminho para vitória eleitoral
Da esquerda para a direita. Da direita para a esquerda. Invariavelmente. As possibilidades de alternância política se solidificam, se tornam cada vez mais previsíveis. Os estímulos para construir propostas alternativas diminuem frente ao pêndulo eleitoral. É mais útil para os partidos oporem-se do que fiscalizar. Não há espaço para eventualmente pactuarem, chegar a grandes acordos. Ser um mero opositor contundente, raivoso, premia mais que um opositor consciente, que busque melhorias para todos.
A identificação ideológica não tem variado.
Isto não significa que as sociedades estejam mudando continuamente sua matriz de pensamento e suas crenças. De fato, há dados substanciais no amplo estudo "Barômetro das Américas" que mostram que a autoidentificação ideológica não variou na última década. Quem era de esquerda há dez anos, continua nessa vertente. O mesmo ocorre com o lado direito do espectro ideológico. A variação é mínima. Na última eleição presidencial observamos claramente esse fenômeno. Lula venceu por margem insignificante. É o triunfo dos opositores.
Não importa a cor, a insatisfação é imensa com o governo de plantão.
Diversos estudos estão colocando às claras um altíssimo nível de insatisfação política com o governo de turno. Nada menos de 73% diz que governam só para favorecer uns poucos. Nesse contexto, cresce o "voto castigo", um voto que condena o governante que termina seu mandato. O voto serve mais para canalizar a raiva do que para resolver problemas. E os opositores aproveitam esse clima efervescente e emocionalmente intenso para canalizar essa irritação. Desse modo, cada vez mais, as eleições se convertem em plebiscitos, as campanhas em exercícios coletivos de crítica e os votos em mensagens furiosas. As propostas de futuro, que geravam ilusão, foram relegadas a um segundo plano raquítico.
Se o voto só destrói, não existirão projetos alternativos.
As campanhas já não necessitam de grandes pensadores, basta fazer uma oposição feroz. Uma campanha de denúncias a tudo e a todos que estão governando. Quando o voto só serve para castigar, o próximo a receber a condenação é o opositor de hoje. Chegou ao poder, virou vidraça. No ato, não há tempo para estudar e buscar melhorias. Apenas se defender. A paciência democrática é cada vez mais curta. Se o voto só destrói, nunca poderemos ter projetos alternativos.