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Em Pauta

O debate sobre os yanomamis. São de esquerda ou direita?

Mário Sérgio Lorenzetto | 26/01/2023 07:45
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
É bem provável que se você visitar a Universidade de Bolonha, na Itália, nenhum estudante de humanas saiba localizar corretamente o Brasil no mapa. Mas eles conhecerão os yanomamis. Se for à Sorbone parisiense, encontrará a mesma realidade. Na Complutense, de Madri, esse conhecimento se repetirá. Também na Colúmbia, de N.York. O fato é que os yanomamis ocupam lugar de destaque nos acalorados debates sobre o homem primitivo e seus pensamentos ligados ao esquerdismo ou ao direitismo. Como se comportavam os primeiros humanos? Para responder a essa indagação, os yanomamis ocupam papel de destaque no debate do Ocidente.


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O homem violento de Hobbes.

Essa história do pensamento começa a ser contada em 1.651 por Hobbes. É uma história da violência. Para Hobbes, o homem é violento e cruel, está sempre envolvido em matanças e guerras. A vida primitiva era sórdida, brutal e curta. Seu "Leviatã", diz com clareza que as únicas pessoas que não estavam sob a autoridade suprema de um rei (ou de um presidente) eram os próprios reis. Esse livro é considerado o fundador da teoria política moderna. Hobbes era  monarquista e  entendia que só com a polícia, governos, tribunais, burocracia sairíamos da selvageria. Hobbes está na base do pensamento de todos os autores de direita - sem exceção. Os hobbesianos utilizam o Homem de Gelo do Tirol, Ôtzi, encontrado nos Alpes italianos, para sustentar suas ideias. Ötzi morreu flechado em batalha.


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O nobre selvagem de Rousseau.

No início, o homem era solidário, havia um igualitarismo hoje impensável e ninguém mandava no outro. Rosseau, em 1.754, nos remete ao Jardim do Éden, uma vida idílica de organização social que decaiu [para o inferno?] quando surgiram as cidades. Os seguidores de Rosseau ocupam a faixa esquerda do debate. Impossível ter algum esquerdista de respeito que não tenha lido esse autor. Apegam-se à história de Romito 2 para explicar como a humanidade era no alvorecer. Essa escavação feita em uma caverna na Calábria, Itália, mostra um menino com sérias doenças hereditárias (displasia acromesomelica) que foi muito bem tratado pela comunidade onde vivia, comia a mesma porção de carne que os demais e teve uma sepultura digna. Uma história de solidariedade. Então, estamos presos entre Hobbes e Rosseau. Não. Há Steven Pinker para aqueles que desejarem estudar os conceitos mais ao centro. Mas dele não trataremos neste escrito por não estar ligado aos yanomamis.


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V.Gordon Childe e Chagnon: o yanomami de direita.

Em 1.936, o estudioso da pré-história escreveu um livro chamado "A evolução cultural do homem". Childe apresenta os yanomamis para o Ocidente dizendo que vivem do plantio de taioba (uma folhagem) e de mandioca, na fronteira entre o sul da Venezuela e o norte do Brasil. Adquiriram fama de ser o suprassumo dos selvagens violentos. Um povo feroz, denominação dada pelo etnógrafo Napoleon Chagnon. O livro de Chegnon (Yanomamö: The Fierce People) vendeu milhões de exemplares e rendeu também uma série de filmes (The Ax Figth, A luta de machados), que vendia uma vívida mostra de guerra tribal. Violência primitiva, portanto, hobbesiana. Conforme Childe e Chagnon, os yanomamis são o exemplo vivo de que o homem primitivo é de direita.


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A menina espanhola que queria ser yanomami.

Helena Valero era uma menina de ascendência espanhola. Uma menina Branca raptada pelos yanomamis em 1.932. Durante duas décadas a menina viveu com uma série de famílias yanomamis. Casou-se duas vezes e alcançou uma posição de certa importância na comunidade. Em 1.956, Helena abandonou os yanomamis para procurar sua família e viver novamente na civilização ocidental. Passou fome e foi rejeitada. Viveu na solidão. Depois de algum tempo, voltou a viver com os yanomamis por livre vontade. A história de Helena não é incomum. Essa foi a resposta dada pelos seguidores de Rousseau ao hobbesianos. Conforme eles, os Yanomamis são um povo solidário, vivem em liberdade, inclusive sexual, mas também a liberdade de não entrar em uma labuta incessante em busca de terras e de riquezas. Seriam de esquerda.
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