O entalhador e o ceramista. E o homem pensa a matemática
Se recuarmos um milhão e meio de anos, veremos que o fogo ainda não foi domesticado e o Homo sapiens não passa de um projeto distante. É a época da pedra talhada. E a moda para cortar pedras é a biface, cortá-la para que tenha duas faces. Num recanto do acampamento, os entalhadores trabalham. Um deles, pega um bloco de sílex ainda virgem senta-se no chão - provavelmente de pernas cruzadas - põe a pedra à sua frente, prende-a com uma das mãos e, com a outra, golpeia sua borda com uma pedra maciça.
O nascimento da geometria.
As lascas saídas deixam uma aresta cortante na borda do sílex. Agora, basta repetir a operação. O homem tem a ponta de uma lança, uma faca. Essa foi a primeira operação matemática humana. Foi pensada, trabalhada, transmitida de geração em geração. Arredondarão, terão o formato de um ovo, de uma gota de água ou de um triângulo isósceles. Nasce a geometria.
A olaria entra em cena.
Agora estamos na Mesopotâmia. O imenso e rico vale que hoje é parte do Iraque, Irá e Síria. As casas de tijolo de barro forma. As primeiras aldeias humanas. Os construtores mais corajosos já acrescentam inclusive um segundo andar. A agricultura é uma tecnologia de ponta. Animais e plantas são domesticados. A olaria está entrando em cena. A olaria é, depois do entalhe em pedras de sílex, a segunda parte do livro da matemática.
Os ceramistas.
A cerâmica é a primeira arte do fogo. Muito antes do bronze, do ferro e do vidro. A partir da argila, massa de terra encontrada em abundância nessa região úmida, os artesãos ceramistas começam a modelar objetos a seu gosto. Essa técnica é conhecida antes da Mesopotâmia. Vinte mil anos a usavam para modelar estatuetas. Mas só na Mesopotâmia surgiu a ideia de se valer dela para produzir objetos de uso cotidiano. O novo modo de vida em aldeia requer formas de armazenagem, é assim potes são fabricados sem parar.
Decorando potes e pensando matemática.
Então, as cerâmicas passam a ser decoradas. Surgem as primeiras escolas de decoração, que em verdade são de matemática. Alguns imprimem conchas ou gravetos. Outros pintam o que veem na natureza. É o "treinamento" para chegar à matemática. E começam a pintar a riqueza dos padrões geométricos. Necessitou de muita premeditação. Triângulos abrem a ala da festa que virá. Quadrados, losangos, círculos.... vem a seguir. Desfilam um a um com olhos matemáticos. Surgem rotações, simetrias e translações, nessa ordem. Até que pensam no mais avançado modelo matemático de então: padrões em forma de "S", encaixados um por trás dos outros.
